Rebeldes que não conhecem suas causas
Por várias vezes escrevi sobre
minha crença de que sem investimentos em educação nosso país não alcançará a
maturidade. Questionei também o papel da mídia que, inapropriadamente, assumiu
a função de “educadora”, por ter percebido na falta de senso crítico do povo
uma oportunidade de se fortalecer e estabelecer-se como direcionadora de
pensamentos e atitudes populares.
O que motiva este texto é a
observação sobre os movimentos sociais e suas linhas de ação. Anarquistas,
socialistas, grupos políticos, entre outros, na sua maioria executam suas
estratégias de comunicação simplesmente propalando suas verdades, gritando
palavras de ordem que objetivam incomodar seus alvos (além de agregar
simpatizantes e militantes) sem, na maior parte das vezes, explicarem
publicamente suas ideologias, motivações e crenças.
Questiono aqueles que reclamam da
falta de engajamento da sociedade nas causas que confrontam as mazelas
impelidas pelo sistema vigente, apoiando-me na ausência de projetos propostos
pelos mesmos que visem à educação desta massa sobre os reais motivos destes confrontos,
na falta de iniciativas que disseminem cultura e conhecimento capazes de
agregar senso crítico e reflexivo, aos homens e mulheres que se tornam massa de
manobra da situação ou da oposição por permanecerem muitas vezes na ignorância
sobre o cerne destes movimentos.
Estimular, por exemplo, o voto
“NULO” nas próximas eleições, argumentando apenas que “o cenário político está
um lixo!”, “ninguém presta nessa política!”, “devemos anular o voto, e aí eles
vão ver!”, entre outras várias frases de clara revolta, pode até ter algum
significado, mas me leva a uma indagação: “será que essas pessoas realmente
sabem do que estão falando?”
Baseado em pesquisas que afirmam:
“o eleitor brasileiro não acompanha seus eleitos!” e “a maioria dos eleitores
não se recorda em quem votou no pleito anterior!” fico pensando sobre a
legitimidade do incentivo à anulação do voto, para quem sequer recorda em quem
confiou seu voto anteriormente. Entendo a prática metonímica dos
pseudo-politizados, que sempre adotam a parte pelo todo, e desacreditam todo
sistema político democrático do país apoiando-se em seus elos negativos; mas
discordo de sua legitimidade, pois nos confronta com a inexistência da
esperança em termos um país mais justo e igualitário, com pessoas sérias e bem
intencionadas governando e legislando pelo povo e para o povo.
Continuando minha contestação
destes movimentos, observo a ausência de propostas de ações educativas voltadas
à criação de grupos de estudo, debates, diálogos ou qualquer forma de
disseminação do conhecimento sobre os temas questionados por eles. Atrair a
sociedade, preferencialmente os jovens, para marchar em prol de ideologias que
não lhes são claras, a meu ver não difere do que o próprio sistema executa,
através de sua influência nos aparelhos midiáticos. Arregimentar militantes que
servirão apenas como “gritadores” e agitadores de bandeiras, mantendo-os desprovidos
de senso crítico e opinião, levando-os a confrontar uma estrutura da qual sequer
compreendem o funcionamento torna a atividade opositora tão nefasta quanto a
situacional.
Quando queremos ver prosperar os
ideais legítimos, que pregam o bem comum, a igualdade, liberdade e qualidade de
vida para todos, não podemos subtrair do povo o direito ao conhecimento, ao
senso crítico, ao poder de escolha pessoal consciente. Acredito e incentivo o
rebelar-se contra um sistema que exclui, não só economicamente, mas
intelectualmente, os elementos que formam suas bases, a população que fomenta
com seus esforços o girar de toda engrenagem política, econômica e social do
país. Discordo veementemente da prática comum do “pão e circo”, que desde a
Roma antiga ajuda a doutrinar e manter o povo alheio aos abusos e usurpações
das quais é vítima. Como também não acredito na “revolta pela revolta”, nos
movimentos que pregam uma destruição do sistema sem ao menos propor um modelo
melhor.
Fundamentalmente, apoiarei
qualquer tipo de manifestação, de insurreição, que pratique com ética suas
ideologias, que se apresente à população com uma linguagem compreensível,
propostas exequíveis e sustentáveis, com a preocupação de ensinar a pensar em
lugar de cooptar e, dessa forma, transformar esse país, a partir da transformação
de seu povo, no Brasil que este povo merece!
Marcos Marinho
Twitter: @marinhomkt
O que eu posso falar? Este artigo me parece mais um tapa na cara. Não digo com orgulho, mas já fiz parte destas pessoas que vão para marchas carregando só o sentimento de revolta. Já gritei até ficar roco, fiquei de baixo de sol até ficar assado e também já quase levei uns tapas da polícia pra aprender a ficar esperto. Você disse que o povão não recebeu educação política, mas mesmo sem política na cabeça ainda tem política nos olhos e sabem distinguir uma porta de casa com asfalto e sem asfalto. Se todos dentro de um movimento soubessem exatamente o porque de estarem ali, de baixo de um sol escaldante, gritando e sofrendo eles veriam que a culpa é deles mesmos, de acreditarem em promessas absurdas. O papel das passeatas é conseguir a visibilidade que a mídia não dá e o papel das mudanças para algo melhor seria dos líderes do movimento. Felizmente em nosso país sempre vai existir o dominado e o dominante, e essa é uma realidade que educação nenhuma irá mudar. Quer saber de uma marcha onde todo mundo sabe o porque exatamente de estar lá? A Marcha da Maconha. Sem querer criar polêmicas ou discussões, eu conversei com os cabeças e também com a classe operária e todos eles falam a mesma língua, parece até que todos eles são só um mente. Agora com meia dúzia de gatos pingados muito inteligentes e sem apoio da massa, onde eles vão parar? Eu te digo, não chegam nem nas conversas das praças. E a mudança que eles querem vai ficar nas páginas das ideias boas que não deram certo.
ResponderExcluirRealmente Douglas, o povo conhece bem suas necessidades! O grande problema é que sempre pensa nas necessidades individuais na hora de votar, no benefício pessoal que lhe foi prometido e, que previsivelmente, não será cumprido. Enquanto a população trocar o voto por qualquer coisa, por um candidato menos pior, um par de botinas, um emprego de cabide para filho(a), uma festa ou qualquer banalidade, as marchas continuarão sendo apenas efeitos colaterais de um processo inconsciente! Acredito sim que a educação libertará a consciência social, acredito também que não devemos ficar esperando apenas que o governo, maior desinteressado, invista nisso. Nosso papel, como pessoas que possuem um pouco mais formação educacional, é fomentar o debate, repassar conhecimentos, estimular as ações educativas que contribuem para a sustentabilidade dos movimentos sociais. Enquanto não marcharmos com os cérebros, apenas desgastaremos nossas pernas! M.M
ExcluirAí você falou. Eu nunca troquei meu voto por nada, mas tampouco dei valor na hora de votar. Estou aprendendo o poder que eu tenho na ponta do dedo. Um dia você poderia fazer um artigo sobre os boatos que assombram sobre a urna eletrônica. Dizem que é comprada e manipulada pelo poder maior. Seria interessante.
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