O que dizer a eles?
Como deve ser
viver em um mundo sem super-heróis, sem pais severos, porém amorosos, sem mães
preocupadas e ao mesmo tempo orgulhosas, sem modelos que sirvam de parâmetro
para sonharmos em fazer sempre mais do que já foi feito?
Lancinou-me
essa indagação quando passei a aprofundar meu olhar nas feições e ações da
juventude, quando comecei a tentar decifrar os tons em seus discursos, as
mensagens em suas roupas e suas exposições e exibições nas redes sociais. Fujo
do moralismo opressor, da castração de ideias e opiniões, que tentam usurpar a
capacidade de se rebelar contra o sistema, de sair às ruas e questionar seus
direitos e oportunidades. Atenho-me justamente ao oposto destas lutas por
causas, ditas perdidas, por arcaicos sabichões que desencorajam endemicamente
qualquer ato que não a submissão ao contexto sórdido que nos é imposto,
valendo-se de máximas populares toscas, do tipo: “é sempre assim!” ou “quando
chegar a minha idade você aprenderá que não adianta!”.
Minhas
inquietações perpassam pela contraposição que faço entre o cenário atual, onde
está inserida a juventude que mencionei acima, e o cenário composto pela
juventude de duas, três, quatro décadas atrás. Não vou propalar delírios
saudosistas, pois esses se cegam pelo tempo, mas quero buscar as referências
que, boas ou más, amalgamaram-se na formação daqueles que atualmente são os
“tios e tias” com mais de 30 anos. Essas gerações conviveram com modelos
familiares, personagens fantásticos, ícones ideários que guiaram revoluções e,
também, toda produção cultural calcada na rebeldia e nas aspirações lisérgicas
ou artísticas, além do lixo cultural que igualmente era posto à mesa, em uma
proporção onde princípios e valores eram repassados e ostentados como brasões,
e sobressaíam a ponto de prevalecer sempre a esperança.
Olhando a
paisagem descortinada a minha frente, através de janelas virtuais ou não, vejo
uma geração carente de modelos, de heróis. De forma alguma modelos de “sucesso
financeiro” como artistas, celebridades, pseudo-celebridades, ou esportistas
que representam o desvalor da educação, através de comportamentos boçais e espúrios,
impassíveis de repreensão popular e midiática, pois pertencem ao Olimpo
reservado aos milionários jovens e inconseqüentes, idolatrados por seus pares
em comportamento, não em
condições. Também não cito os “heróis” apócrifos, comemorados
e aludidos por apresentadores aloprados, que encontram valor na exposição
midiatizada de corpos desnudos e anabolizados, responsáveis por carregar
imbecilidades e ignorâncias que servem apenas para verter dinheiro aos cofres
de algumas empresas. Vejo a carência de referenciais dignos, que apresentem em
si atitudes e limites que fazem prevalecer a ética, o respeito, a justiça, a
humildade, o zelo, a solidariedade, a coragem e a determinação, que são capazes
de manter de pé aqueles que, mesmo após desgostos e decepções, continuam sem
considerar válido “o outro lado da força” – essa eles não vão entender.
Lembro que sempre,
em todas as épocas, existiram os mal intencionados, os usurpadores e
enganadores, porém recordo também que era possível ver perseverar nos olhares
da juventude, nos semblantes de outrora, o fio de esperança que os faziam
seguir em frente. Havia
os verdadeiros Heróis, homens e mulheres comuns que, inspirados por seus
personagens infantis, seus ideais ou modelos domésticos, empunhavam suas
bandeiras e seguiam sua marcha inexorável rumo ao “futuro melhor”.
Mas e hoje? O
que posso dizer aos garotos e garotas que como únicos referenciais tem os maus,
os enganadores, os mentirosos travestidos de baluartes da moral, os
“mensaleiros” que vivem de pizza, os governantes imersos em cachoeiras de
escândalos, os heróis que tudo resolvem à bala, os lares bipartidos,
tripartidos ou inexistentes? Como falar de esperança para aqueles que não
partilham outro modelo que não esse “bbbizzarro”, que não conhecem outra
verdade que não essa editada, essa versão ou subversão que lhes é entregue por
suas principais fontes de educação?
Questiono-me
sobre o que direi a eles, ao tentar apresentar-lhes a possibilidade de um mundo
melhor, de uma política ética, de uma sociedade includente e solidária, de uma
proposição diferente para o fim que lhes serve de presente.
Marcos
Marinho
Consultor e Professor de marketing Político na Faculdade
Alfa.
@marinhomkt
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