A arte da guerra – Nós escolhemos nosso general
Não acredito em organizações
acéfalas, onde cada integrante tem total autonomia para decidir sobre suas
ações e forma de participação no grupo, sem se importar com a coletividade. Acredito
que em uma sociedade complexa, permeada por diversos tipos de relacionamentos -
onde as interações estão sempre impregnadas por interesses individuais - em não
havendo diretrizes de comportamento e balizadores de atitudes, fatalmente s
mesma caminharia para o caos e a desintegração.
Percebo na essência humana a
tendência para a auto-preservação, a colocação de interesses pessoais sobre
qualquer matéria que não lhes sejam favoráveis, talvez pelo instinto de
sobrevivência, talvez por uma ganância nata pelo poder e dominação do próximo.
Podemos iniciar uma investigação
simples, observando o comportamento das crianças pequenas, que sem conhecimento
de mundo, políticas, sistemas econômicos ou sociais, iniciam-se na vida
monopolizando todas as atenções dos que estão a sua volta, garantindo que todas
as suas necessidades sejam atendidas de pronto, e não me refiro apenas às
básicas, mas às de atenção, principalmente com seus choros e gemidos, com
ataques histéricos, mesmo após estarem saciados e limpos, simplesmente para
conferir se realmente estão a postos seus serviçais.
Quem nunca ouviu de uma sábia avó
os dizeres: “isso é manha!”? Quantos já presenciaram crises de ciúmes, ou
brigas egoístas por brinquedos e mimos, entre crianças de tenra idade, que
mesmo com feições angelicais não se furtam a agredir e gritar contra aqueles
que lhes ultrapassam os limites? Se são assim enquanto crianças, imaginem o que
serão capazes de fazer aos “coleguinhas” quando crescidos? Definitivamente,
estes somos nós, seres que buscam mais do que a simples sobrevivência, buscam o
controle do espaço que julgam merecer, a despeito do espaço que julgam ser de
merecimento do seu próximo.
Por ter claros os motivos pelos
quais não acredito na capacidade humana de auto-gestão individual, dentro da
vida em sociedade, trago agora uma questão ainda mais passível de debate: quem
deveria, então, ser o guia desta sociedade? Quais características devem estar
presentes nos que serão gestores sociais, coordenadores e equalizadores de
desejos, necessidades e expectativas de um grupo eclético, miscigenado e
obrigado a conviver em espaços e níveis diferentes de uma mesma sociedade? E o
principal, como escolhê-los?
Por muitos séculos essa escolha
foi conferida a Deus, onde por direito de nascimento os comandantes supremos,
os monarcas, sucediam-se em tronos sobre as nações dos quais conduziam, ao seu
bel prazer, as vidas dos súditos que, mesmo contrariando sua natureza,
submetiam-se aos comandos e desmandos de seus senhores, em troca da
pseudo-satisfação de suas necessidades. Quando não puderam mais apoiar-se
simplesmente nas vontades de Deus, por ter entrado em cena algo que, para
muitos é bem mais poderoso que o próprio Deus, a moeda tornou-se o principal
fator legitimador de domínio e governo.
Duas coisas não mudaram desde a antiguidade
até os dias atuais: a natureza humana e o poder da moeda! No entanto as
sociedades foram transformadas pela influência das ciências, filosofia e
interação cultural proporcionada pela expansão dos reinos em busca de mais
moedas, fazendo com que outros critérios se fizessem importantes para
configurar-se um comandante digno de ser seguido. Com as transformações das
sociedades, as formas de governo também se transformaram, a submissão social
aos mandos e desmandos dos governantes passaram a exigir novas habilidades,
novas posturas por parte dos que pretendiam ascender ao poder, ao posto de
comandante supremo.
Voltando ao passado, recorro às
falas do grande general Sun Tzu (séc. IV AC), que deixou em seu tratado, “A
arte da guerra”, uma explicação simples e exata sobre a figura do governante,
segue: “O comandante é o equilíbrio da carruagem do estado. Se este equilíbrio
estiver bem colocado, a carruagem, isto é, a nação será poderosa; se o
equilíbrio estiver defeituoso, a nação, certamente, será fraca.”
Não podemos conceber, então, um
governante que não represente fielmente todos os princípios e habilidades que
se fazem necessários para agregar à sua volta os diferentes tipos de liderados.
Honestidade, austeridade, firmeza, coragem, transparência, entre tantos outros
adjetivos que nos surgem quando pensamos no líder perfeito, devem ser buscados
em todos os que se colocam como opção nos pleitos eleitorais. Como já disse,
não só a moeda, ou desígnios de Deus, devem ser tomados como legitimadores das
escolhas sucedidas nas urnas municipais, estaduais e federais, é preciso a
investigação e o monitoramento constantes daqueles que colocam suas biografias
a serviço da nação, para que se sejam confirmados os pré-requisitos definidos
para a ocupação dos cargos correspondentes.
Hoje nossa sociedade se vale de
um instrumento democrático para escolha de seu governante. Entregamos de forma
consensual nossas vidas ao comando de homens e mulheres que ascenderão ao posto
de supremo dirigente, a cada quatro anos. Não por desígnio divino, e não
somente pelo poder da moeda, é definido quem responderá pela manutenção das
satisfações sociais, a agregação do grupo sob as cores de uma mesma bandeira. Talvez
agora, como partícipes do poder e detentores do direito inalienável de escolha sobre
o destino de toda a nação, esteja nos faltando uma parte fundamental do que nos
manteve vivos durante o passar da eras, o entendimento de que nossa
sobrevivência depende disto.
Marcos Marinho
twitter: @marinhomkt
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