O que passou na TV – Um comentário sobre a vida e as mazelas
midiatizadas
A espetacularização da vida é
incontestavelmente uma repercussão de sua midiatização aliada à fogueira de
vaidades fomentada por seus veículos. Objetivando estampar capas de jornais e
revistas, além dos minutos vendidos a peso de ouro em rádios e tv’s, as pessoas
expõem seus traumas, culpas, condutas e até seu silêncio para milhões de
expectadores.
Os consumidores da mídia, bem
como seus patrocinadores, vivem a banal expectativa pelo espetáculo pirotécnico
que acompanha os escândalos, denúncias e tragédias. Muitas vezes a informação,
característica nata do jornalismo, além de principal produto de muitas redes de
comunicação, dá lugar aos comentários banais e vazios, ou aos escrachos que
tentam satirizar situações que não lhes permitem tais manobras por audiência.
Questiono as principais
“notícias” veiculadas à exaustão nesta semana de maio de 2012, onde um fato
lastimável como o abuso de uma criança, toma um caráter dramático, não pelo ato
em si, mas pelo abusado que, no auge do ostracismo de sua fama, decide jogar
aos quatro ventos um passado que não lhe justifica o presente, mas comove e
garante lágrimas saudosistas de baixinhos que não enxergam o andar inexorável
do calendário. Reforço que meu julgamento não é pela denúncia, mas pelo tom que
lhe coube, a formatação dada e, principalmente, por não enxergar na ação um
intuito sincero de contribuir com as vítimas desta bestialidade, não perceber
nisto algo que realmente fosse impactante para aqueles que precisam de
porta-vozes contra esse crime, especialmente observo que, vindo de quem veio,
pelo potencial midiático e econômico que representa, esperava algo mais
abrangente e eficaz para proteção dos que padecem por este mal.
Outro momento indigno de ser
comentado, mas necessário, é o jogo de faz-de-conta que nos é transmitido de
Brasília, onde uma CPI apresenta a disputa de parlamentares que se revezam na
tentativa de argüir, da maneira mais constrangedora possível, um inquirido
mudo, que se esconde por detrás de uma cachoeira de recursos jurídicos e
brechas da lei. Somando a esta CPI ainda temos: um julgamento moribundo de
mensaleiros escondidos sob as saias do poder, a votação de uma PEC contra o
trabalho escravo, em que os votantes se atém ao questionar da definição de
“trabalho escravo”, me fazendo perceber que, de certo, fugiram das aulas de
história ou se recusam a enxergar os trabalhadores como seus iguais, e,
portanto, passíveis de cargas e formas de trabalho que os próprios parlamentares
não aceitariam jamais.
Ainda no decurso da semana, fluem
pílulas sobre artimanhas para blindar construtoras e governadores, trocas de
mensagens “analfabéticas” entre relatores e acusados, presidentes de comissões
que empregam fantasmas e mais um sem número de denúncias que se esvaem twitter
afora.
Infelizmente preciso reconhecer
que as principais fontes de informação de nossa sociedade estão, se não
completamente, parcialmente impregnadas por interesses monetários, e lembro que
estes interesses sobrepujam a necessidade social de informação clara, bem transmitida,
completa e contextualizada, capaz de permitir a criação de conceitos, de mobilizar em direção às urnas, em direção
às ruas para marchas e protestos pacíficos em prol de mudanças, capaz de conduzir
para uma sociedade melhor, capacitando esta sociedade a assumir as rédeas deste
país.
Volto-me para um discurso
recorrente em meus textos, recorrente nas falas de poucos senadores e atores
sociais: invistamos na educação deste povo, participemos desta educação, não
terceirizemos estes cérebros para a mídia lasciva, pois seremos obrigados a
viver neste mundo da forma que o transformarmos, até o último suspiro que nos
for permitido!
Marcos Marinho
twitter: @marinhomkt
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