Espaço destinado ao registro das percepções críticas de um cidadão brasileiro sobre política, comunicação, comportamento e demais assuntos pertinentes à sociedade contemporânea.
Uma visão técnica do ponto de vista do marketing e apaixonada do ponto de vista humano. Leia, critique e replique à vontade!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Não há ingenuidade eleitoral – Um mea culpa sobre a realidade política.



Decidi ser franco com todos os leitores deste texto e expor minhas versões da realidade política brasileira. Claro que não julgo minha versão como a preponderante, a suprema, mas sim uma versão dos fatos que passaram por lentes críticas, e foram catalogados e alojados equidistantemente entre meus desejos particulares e a realidade.
Nasci ainda no período da ditadura militar, mas não verso sobre esta fase, pois dela nada lembro, era criança. Minha primeira recordação sobre política data de 1984, de um comício do Movimento Diretas Já, mais iconicamente da figura de Tancredo de Almeida Neves. Lembro-me de sua triste morte antes de assumir a presidência da república, lembro-me de um bigodudo assumindo em seu lugar, e daí pra frente já me lembro de muita coisa: maquinetas de remarcar preços nos supermercados, hiperinflação, muitas donas de casa nervosas e muita, muita reclamação.
Volto um pouco no tempo, nas imagens televisivas que formaram minhas primeiras impressões políticas, num comício gigantesco com muita gente se abraçando e cantando, chorando, agitando bandeiras, comemorando de uma forma tão entusiasmada que, hoje, me fazem contestar a atual postura da sociedade frente à política. Foi por essa atual realidade que eles lutaram, choraram e comemoraram?
Acredito que estamos simplesmente colhendo aquilo que plantamos! E me refiro a todos os escândalos políticos que tem nos assolado ultimamente. Nesta versão miro através de minhas lentes os rostos corruptíveis de eleitores que assediam candidatos em troca de benefícios próprios, e de candidatos que se prestam ao mesmo papel, só que na ponta contrária.
Posso também visualizar cidadãos que se eximem da responsabilidade de escolher, certo ou errado, seus representantes e se empoleiram sobre os muros da democracia, atirando pedras para todos os lados. Posso ainda perceber hordas de alienados se movendo ao ritmo de “oi, oi, oi”, obcecados por folhetins espúrios que desconstroem todos os valores morais que me foram ensinados, jovens pré-alcóolatras se formando em “sertanejos universitários”, onde sua profundidade crítica e conhecimento político são suficientes apenas para incentivar o abandono da responsabilidade pelas escolhas, e replicar conteúdos desprovidos de relevância pelas redes sociais.
Ainda bem que em minha versão dos fatos ainda existem pessoas de coragem, que lutam contra regimes totalitários, em vários locais deste mundo, onde até a morte é preferível à realidade, à falta de direitos e à obrigatoriedade de anulação da individualidade. Pessoas que nos ensinam que viver é mais do que sobreviver. Através de minhas lentes, também enxergo jovens assumindo seu papel na manutenção da democracia, na retomada da luta por um país melhor, pela cassação dos bandidos uniformizados com ternos caros e gravatas de grife, da eliminação dos escroques escondidos no funcionalismo público, nas entidades de classe, nas instituições sociais públicas e privadas.
Em minha versão da realidade não culpo a política, nem só os políticos, pelas decepções que acumulamos e tentamos manifestar nos períodos eleitorais. Tenho consciência de que não somos ingênuos! Faço mea culpa e assumo que não sou tão ativista como gostaria, sou também entremeado de acomodações e descasos peculiares aos que não precisaram arriscar suas vidas por seus direitos civis, mas em minha versão da verdade sou capaz de mudar, de me empenhar mais, de assumir meu papel na construção de uma sociedade melhor, sou capaz de, muitas vezes, permitir que outras lentes me sejam postas para me mostrar que existem outras realidades, que também compõem a realidade.

Marcos Marinho
twitter: @mmarinhomkt