A cultura que move o homem.
Interpreto as
reações de nossa sociedade frente aos escândalos políticos atuais, e
principalmente à falta de punições para seus envolvidos, como algo condizente com
a nossa cultura. Como disse o
antropólogo e escritor Roque Laraia: “A cultura é a lente através da qual o
homem vê o mundo”. Partindo desta proposição, sugiro que estas lentes são
formatadas nas mesas editoriais das emissoras, editoras e produtoras de
conteúdo midiático. Incontestavelmente as versões apresentadas pelas mídias
somam parte preponderante do arcabouço formador daquilo que se adota como “a cultura
brasileira” e, desta forma, vê-se ser reproduzido aquilo que é doutrinado através
dos veículos.
Constatando que a TV cumpre um papel, em muito
superior ao seu de ofício, que seria o de trazer informação e entretenimento
aos telespectadores, passando a exercer a função de educadora infantil, babá,
professora e até “cérebro” em alguns lares brasileiros, como considerar não ser
dela a principal lente pela qual se formam as interpretações que orientam as reações
populares?
Após esta ilação,
decido aprofundar as conjecturas e compreender melhor nossa “cultura”
televisionada, analisando os conteúdos transmitidos pelas telas “educadoras”
dos canais de TV aberta. Percebo que a população entrega seus neurônios, vazios
de conteúdo teórico, estudos, leituras e reflexões, para serem preenchidos com
as crenças e certezas introjetadas por apresentadores em bancadas, ou
personagens de folhetins.
Recordo quando
uma telenovela apresentou um “capiau”, imbuído de toda simplicidade e honestidade,
sendo corrompido pelo poder – em 1989 - mesmo ano em que um recente
ex-presidente perde sua primeira disputa pelo palácio do Planalto, e depois, quando
essa mesma emissora, talvez com certo recalcamento, decidiu apoiar um
impeachment e passou a estampar em seus noticiários vários caras-pintadas,
contribuindo para uma mobilização nacional. Ali pudemos perceber a força de uma
tela de TV.
Mais
recentemente percebi uma manobra, onde o movimento social “Fora Marconi” não
teve seu nome explicitamente reconhecido num primeiro momento e, após uma forte
repercussão em redes sociais que acabaram pressionando estes veículos, e também
de uma estratégia equivocada do Governador, merecedor desta “homenagem”, no
trato com a mídia, passou a ter seu legítimo e merecido espaço nos editoriais,
agora nominado corretamente.
À mídia cabe
um papel importantíssimo no estado democrático de direito, noticiar os fatos.
Não lhe cabe interpretar estes fatos, tampouco assumir a missão de educar ou
formatar nossa cultura. Carteiras escolares e livros devem substituir sofás e
monitores de tv, sob pena de nunca termos uma sociedade capaz de se indignar
e reagir na medida certa, pelos motivos
certos e em tempo certo!
Marcos Marinho
twitter: @marinhomkt
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