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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O gigante não voltou a dormir, perdeu-se.

A expectativa é um dos sentimentos humanos mais difíceis de lidar, pois depois de alcançado um referencial, nada abaixo dele será considerado satisfatório e, desta forma, sempre estaremos em busca de sensações que superem as experiências anteriores.

O dia 07 de setembro de 2013 passou carregado de expectativas, em sua maioria, frustradas. Precedido por momentos históricos, onde todas as vozes foram manifestadas nos milhares de cartazes pelas ruas do país em junho, o dia da Independência não ouviu os gritos que esperava.

Já surgiram aqueles que decretaram o retorno do “gigante” ao seu berço esplêndido, e assim apregoam o descrédito no povo brasileiro que não lhes correspondeu às expectativas por não tomarem novamente as ruas com toda fúria e entusiasmo, não superando as imagens veiculadas há três meses pela mídia internacional.

Abstraindo as expectativas românticas e pouco lógicas, avalio que o “gigante” não voltou a dormir, mas está completamente perdido. Aparentemente não ficou claro para aqueles que exigem uma postura mais ativa e engajada do povo brasileiro, que este não assistiu às aulas politizadas das academias ou às reuniões ideológicas dos partidos e movimentos sociais. Sua motivação ainda é difusa, mas suas carências são claras.

As manifestações de junho contaram com anos de acúmulo de frustrações e angústias, associadas a um catalizador econômico que atuou como imã atraindo as pessoas para as ruas. Movimentos desordenados, desorganizados e acéfalos, mas com pelo menos um ponto em comum que os mantiveram unidos nas ruas: a necessidade de extravasar e aliviar a pressão. Todos foram contemplados por esta demanda.

De junho a setembro, os brasileiros foram bombardeados com mais uma série de decepções e escândalos, com corporativismos políticos que beneficiaram bandidos, e com o costumeiro paralisar das ações em benefício do povo. Porém uma coisa não aconteceu neste ínterim: nem políticos, nem líderes, nem entidades surgiram para assumir o papel de novos catalizadores dos motivos populares.

A acefalia de junho pôde ser compensada por fatores que suplantaram a importância de um guia comum, os próprios sentimentos e carências fizeram este papel. No entanto, estes motivadores jamais seriam suficientes para repetir as cenas daquela jornada. Como falamos no início deste texto, as expectativas só se superam por sentimentos mais fortes e impactantes que os anteriores.

Sem direcionamento, liderança e educação disseminados entre todas as fileiras dispostas a mudar este país, ainda que ele não adormeça, ficará sem rumo, perdido em meio a um campo que nunca lhe foi apresentado da maneira devida. O povo mantem os mesmos anseios e carências de antes, mas não sabe se o caminho das ruas é suficiente para saná-los.

Marcos Marinho

Professor e consultor político.

domingo, 8 de setembro de 2013

Friboi, de piranha.

A administração pública carece de gestores mais competentes. A função executiva deve ser exercida com mais critério, pois tem como principal atribuição gerir os recursos de seu município, estado ou país em prol de atender às demandas populares. Acredito que a experiência adquirida por um empresário, que consegue obter sucesso a despeito de todas as dificuldades impostas pelo nosso sistema político e econômico, teria muito a contribuir.

Porém a política possui uma dinâmica que a diferencia muito do meio empresarial. Nesta seara não basta a verve gestora, é preciso habilidades e estratégias capazes de viabilizar os projetos que, invariavelmente, dependem da adesão e/ou concessão de muitos outros personagens.

O PMDB goiano está sendo palco de uma cizânia causada pela oposição de dois personagens: um representando a habilidade gestora, comprovada por uma história de sucesso empresarial, e outro a habilidade política, comprovada por uma história construída com vitórias e derrotas nas urnas e, principalmente, muitas horas de articulação e debate político.

Adotando estratégias condizentes com seus perfis, Iris Rezende e Júnior Friboi protagonizam um dos maiores embates pré-eleitorais da política goiana. Representando, ambos, parcelas importantes do partido, utilizam de expedientes que não são tão facilmente compreendidos pela população que os assiste.

Friboi, com sua ousadia e agressividade, tão pertinentes ao mundo dos negócios, trabalha às claras pela viabilização de seu nome para ostentar a bandeira do partido em 2014. Calçado por atuações de bastidores, que vem de muito tempo e investimento em campanhas alheias, o empresário tenta ampliar seu número de apoiadores internos, cacifando-o com o capital político que lhe é caro.

Iris Rezende, por sua vez, mantem-se no “jogo do quieto”, se negando a uma antecipação de candidatura. O experiente político se permite jogar com o tempo e as expectativas dos outros interessados no processo. Detentor do maior montante de capital político, e uma história que se confunde com a própria história do partido e da política goiana, não sucumbe às investidas do desembestado aliado/oponente, e tampouco às pressões da mídia e dos outros possíveis concorrentes ao páreo do próximo ano.

Vítima de suas escolhas e ciente da necessidade de maximizar sua imagem política antes mesmo do próximo pleito, Júnior caminha por uma estrada ainda não pavimentada em direção às urnas. Além de tocar seu berrante para arrebanhar partidários dispostos a formar sua tropa, necessita ainda da benção do líder-mor do partido e, coisa que percebo estar esquecida, da criação e consolidação de uma imagem política na mente dos goianos, a fim de que estes o percebam como o líder certo para o momento vindouro.

Senhor de suas escolhas, e das escolhas de muitos companheiros posicionados sob suas asas, Iris Rezende joga primorosamente seu xadrez político. Sem movimentos abruptos que o coloquem em desvantagem contra inimigos declarados e disfarçados, continua se esquivando das reivindicações de respostas, bem como da exposição antecipada de suas pretensões que, certamente, ficariam na mira daqueles que não o querem nos palanques de 2014.

O certo é que o cenário político goiano continuará, ainda por um bom tempo, sem definições. Aqueles que contam com o tempo ao seu favor farão uso dele, já os que correm contra ele, deverão ser cada vez mais incisivos em suas investidas. Chamo atenção para um fato que outrora já serviu de fala para o personagem Capitão Nascimento, representado pelo grande ator Wagner Moura: “o sistema entrega a mão para salvar o braço”.


Marcos Marinho

Professor e consultor político.