Injustiça – Quando a esperança cede lugar
à apatia
Hoje resolvi mudar a temática
deste blog e falar sobre um assunto mais ameno, porém não menos reflexivo, a
esperança.
Não me refiro a algo utópico, que
apenas permeia histórias fantásticas de livros e filmes, onde a esperança
reside no sobre-humano, nas magias ou nos milagres. Falo da esperança em si
próprio, no sentimento que aparece quando você está frente ao espelho fazendo
seu julgamento de si.
Por mais soberbos ou submissos,
dinâmicos ou letárgicos, ativos ou passivos, todos temos embates filosóficos
frente ao espelho! Essa dicotomia serve apenas para esclarecer que a esperança
que abordo neste texto não depende de aval social ou consenso, por ser algo
íntimo e independente, que reside na individualidade solitária de um reflexo.
Ao acompanhar discursos e
debates, proferidos em cadeia nacional e portas de botequins, absorvo
constantemente o sentimento de desespero impregnado nas palavras que rolam das
bocas cansadas, alimentadas por histórias de decepção, dificuldades,
injustiças, pão e circo. A desesperança chega a parecer legítima muitas vezes.
Justificar-se-ia toda alienação advinda do abandonar da fé, se, como temos sido
doutrinados por toda a vida, o motivo de nossa expectativa fosse a ação do
outro, fosse o simples esperar por algo do qual apenas seremos participados por
seus decisores.
Alguns desesperançosos chegam ao
ápice de sua descrença publicando artigos e propalando discursos onde as
incapacidades e defeitos dos homens são sempre os atores principais.
Desestimulam ações individuais e descredibilizam grupos e entidades que ainda
buscam o oposto, a mudança, as ações em prol de uma sociedade melhor. Mal maior
do que a apatia é a tentativa de contagiar os obstinados com o vírus do
desânimo.
Volto ao foco deste texto,
ressaltando situações onde apenas um é necessário para que algo mude, segue: levantar-se
da cama pela manhã, ler um livro, colocar seu lixo em lugar adequado, escrever
uma carta de amor, dar um sorriso, plantar uma árvore, ter uma idéia, desligar
as luzes ao sair do ambiente deixando-o vazio, diminuir seu desperdiço de água
durante o banho, escolher produtos ecologicamente produzidos, discordar de
abusos, ser honesto, pensar antes de falar, falar com seu Deus.
O mais interessante das ações que
dispensam platéia ou apoio é pensarmos que não importa se o outro não as faz,
as fazemos simplesmente porque acreditamos que fazemos o certo. Vejo que o
principal impasse para as mudanças que precisam ser feitas no mundo é a
obrigatoriedade que impomos ao outro de que realize as mesmas ações que nós e,
em vez de tentarmos influenciá-lo a agir, nos juntamos a sua apatia e justificamos
da forma mais tosca: “não é justo que ele não faça”.
Quando abdicamos de nossa crença,
simplesmente por discordar da não adesão do outro, expomos aquilo que contradiz
a própria crença, nossa esperança não é firme em seu propósito.
Quando conclamo à esperança,
exalto a crença em si mesmo, na sua capacidade de alterar, mesmo que
minimamente, sua condição individual dentro do contexto em que vive. Acreditar
que sua ação possui toda grandeza e força necessárias para influenciar
positivamente ao seu próximo é o que contrapõe a esperança utópica, é o que
concretiza a idéia de que toda caminhada começa com um primeiro passo.
Tenha esperança, e não se
contente em apenas esperar que as coisas mudem, contrarie os derrotistas e
mostre que sua ação é mais forte que a apatia e o medo deles. Injustiça de
verdade é o seu desistir frente a descrença daqueles que são incapazes de
abandonar suas frustrações.
Marcos Marinho
twitter: @mmarinhomkt