Existe trigo sem joio? - Como acabar com o mal infiltrado nas fileiras do bem.
Observando nossa sociedade
subdivido-a em vários segmentos, destaco: dos poderosos e oprimidos, dos
corruptos, corruptores e corruptíveis, dos alienados e contestadores, dos
atuantes e omissos, e mais alguns por aí. Acredito que, como prega a
sociologia, todos representamos personagens, muitas vezes distintos, que
transitam entre os grupos, desempenhando algumas vezes papéis antagônicos, de
acordo com a necessidade e representatividade adquirida ou outorgada.
As participações dentro dos
grupos são motivadas pelos impulsos pessoais, que impelem reações diante das
situações vividas. Já foi constatado que o comportamento do homem, quando em
grupo, altera-se, saindo do padrão normal de reação e partindo para uma
sensação de poder e anônimidade capaz de permitir atos de “coragem”, que
caminham em uma tênue linha que separa a legitimidade das ações da violência e
do vandalismo. Torcidas organizadas, movimentos sociais, e aí abro um leque sem
fim: Marcha contra corrupção, MST, Movimento fora Marconi, Marcha da maconha,
Movimento ficha limpa, e todos que congregam um sem fim de ideologias. Aponto
também os partidos políticos, funcionalismo público, instituições de ensino,
igreja católica, igreja protestante, muçulmanos, judeus, enfim, qualquer grupo
que congregue pessoas de diferentes idades, classes sociais, níveis de educação
e formação ocultos em multidões de iguais, partilhando das mesmas funções. Quando,
conjuntamente, as manifestações praticadas por algum desses grupos,
manifestações legítimas advindas de grandes esforços de mobilização,
objetivando subjugar desmandos ou simplesmente propagar sua crença ou torcer
por seus afetos, são promovidas barbaridades, violências, preconceitos,
vandalismo, crimes e contravenções. Vemos um batalhão de alheios ostentando
discursos de extinção, propalando palavras que tendem a desmoralizar todo o
movimento, toda a instituição, abalar todas as crenças. Surgem então as
perguntas: Sacrifica-se o corpo que apresenta um câncer, ou extirpa-se o câncer
e trata-se o corpo para que não haja recaídas? Elimina-se toda uma ideologia,
uma paixão, uma instituição, ou expurgam-se os que mancham suas bandeiras?
Tratar o efeito em lugar da
causa, em nenhuma circunstância, se revela a melhor estratégia, perder as
esperanças frente aos desapontamentos, ás decepções ocasionadas por lobos
travestidos de cordeiros que se infiltram nas fileiras dos bem intencionados,
simplesmente enfraquece a oposição aos maus e corrobora com a desconstrução do
melhor ideal comum. Além, é claro, de não resolver os problemas. Extinguir
torcidas organizadas, acabar com as igrejas e religiões, prender todos os
descontentes, deixar de votar ou, mais radicalmente, odiar a política, não
resolve todos os desapontamentos que temos sofrido, que vemos estampando as
mídias que nos chegam diariamente. Sem trabalhar a raiz dos problemas, sem
cuidar da formação dos cidadãos que se sucedem na interpretação dos papéis
sociais, envolvidos em tudo o que partilhamos enquanto sociedade, nada mudará.
Não sei se existe trigo sem joio,
mas tenho certeza de que ambos podem ser separados mediante o trabalho árduo e
algumas pancadas que servirão para desprender do nosso trigo - nossos sonhos,
objetivos, crenças e paixões - toda erva daninha que tenta manchar nossas
batalhas diárias. Conclamo aos leitores deste texto que propaguem de hoje em
diante não apenas suas convicções, mas também uma certeza inconteste de que os
maus não superarão os bons, de que o diálogo franco e envolvente é mais eficaz
que as imposições e a violência, e de que a educação é o alicerce para um mundo
melhor onde nunca calarão nossas vozes!
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