Já dizia Maquiavel
A relação entre o povo e a política
pauta-se por alguns fatores que invariavelmente moldam as ações e reações de
ambos os lados. Destaco: necessidades, desejos, medo e confiança.
A relação com os desejos e as necessidades
manifesta-se na velha prática do escambo entre propostas e votos. Os políticos
surgem com suas propostas e promessas, e o povo, a partir de suas necessidades
e desejos, troca seu voto pela aspiração de saciar suas demandas. Fatalmente
essa relação influenciará direta ou indiretamente nos outros fatores, elencados
logo acima, visto que proposições não cumpridas podem incorrer na perda da
confiança instaurada entre eleitor e candidato.
Quanto ao medo e à confiança,
estamos passando por uma revolução destas relações, invertendo papéis e
obrigando as partes a adotarem novas posturas e estratégias no intuito de
equalizarem as energias despendidas por ambos os lados.
Sobre o medo, e refiro-me ao medo
de perseguições e de medidas que prejudiquem a coletividade, podemos perceber
uma inversão de posições, pois boa parte da população encontra-se menos oprimida
em sua clausura social, apartada do mundo das informações e dos direitos, passando
a poder manifestar seus dramas para os quatro cantos do mundo pela internet, e pelas
mídias que se vêem obrigadas a divulgar os fatos com maior fidelidade, por
serem confrontadas pelos fiscais da verdade - os próprios envolvidos nos fatos
e que agora também produzem e editam seus conteúdos – transferindo assim o
temor, para o reverso da moeda.
São agora os opressores que
precisam lidar com a possibilidade de se verem enredados em crises capazes de ocasionar-lhes
terríveis pesadelos, são os amedrontadores que passaram a temer grampos,
arapongas, passarinhos tuiteiros e demais artimanhas populares de mobilização e
revolta.
A questão da confiança, que
perpassa todas as outras citadas neste texto, rege-se pelo gangorrear de
informações e desinformações que circulam pelos canais oficiais ou não de
comunicação. Com a exposição ostensiva de todos os atores políticos, ora
propositais, ora inadvertidamente, pode transmutar seguidores em perseguidores,
aliados em algozes e caçadores em caça diante dos olhos inquisidores dos
votantes da nação.
Na esfera política, onde seus
players são cada vez mais obrigados a conviverem com múltiplos olhos sobre suas
condutas, apoios e abstenções, um passo mal dado, uma fala fora de hora, um
afago na cabeça errada pode custar arranhões de credibilidade que fatalmente
doerão lancinantemente nas urnas.
Em tempos de CPMI X Mensalão, de
cachoeiras pluripartidárias que deságuam em cargos públicos, veículos de
comunicação, empreiteiras, e se aprofundam nos três poderes, também surge o
jogo do ”quem desiste primeiro”, onde todos querem acusar, na tentativa de
intimidar os oponentes fazendo-os cessar suas investidas. Sendo assim, vemos
acusados querendo ser acusadores, usando suas siglas para instaurar ou presidir
comissões de inquérito, se antecipando aos oponentes e pedindo esclarecimentos
aos seus apaniguados, atos que para alguns, são mais estratégias de defesa do
que realmente indignação e busca pela verdade, talvez uma adaptação do famoso
cavalo de tróia, que carregava em si a estratégia para derrubar as defesas do
oponente.
Reforço meus apontamento com os
dizeres de um dos maiores estrategistas políticos da história da humanidade,
Nicolau Maquiavel, que, em uma época de impérios monárquicos, teve a lucidez de
postular estratégias para manutenção do poder, o qual sabemos também ser
objetivo primário dentro da política. Chamo uma reflexão que pode deixar várias
pulgas atrás das orelhas de nosso povo, mas que certamente se faz importante,
pois já estamos todos cansados de pizzas e fumaça. Disse: “Quando precisa, até
o diabo passa por santo!”
Marcos Marinho
Consultor e professor de Marketing Político.
twitter: @marinhomkt