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domingo, 23 de setembro de 2012

Geração Miojo – O paradoxo na quebra de paradigmas.



A evolução humana nos trouxe a um momento ímpar na história da humanidade, desaprendemos a lutar pela sobrevivência da espécie. Durante toda marcha do Australopitecos ao homem de Cro-Magnom, e das caminhadas a passos largos do Homem moderno, sempre mantivemos o ímpeto natural da sobrevivência, aquela centelha que não nos permitia acomodar facilmente, que nos impulsionava à conquista e ao desbravamento de lugares, coisas e ideias.
Ao logo de sua jornada evolutiva o homem foi desenvolvendo meios de otimizar recursos, de reduzir a carga de esforço necessária para sanar demandas físicas, emocionais e sociais. Com o aparelhamento tecnológico, veio a dominação de tantos artifícios para facilitar nossas vidas, que teoricamente deveriam nos proporcionar uma economia de energia física e mental capaz de nos permitir viver por séculos!
As gerações passadas quebraram tantos paradigmas, como - expectativa de vida, suscetibilidade a certas doenças, preconceitos, dogmas, opressão econômica e social, modelos de governos, padrões familiares, tabus sexuais, bem como moda, música e costumes -, que aparentemente pouco sobrou para as novas gerações. As grandes conquistas políticas já foram conseguidas, a inserção da mulher na sociedade, com direitos iguais aos dos homens, já é entregue às garotas de hoje ao nascerem. Num país sem guerras externas e civis como o nosso, a quebra de tantos paradigmas acabou se tornando um paradoxo.
Com tantas liberdades praticamente natas aos brasileiros de hoje, com tanta oportunidade educacional, e neste momento peço permissão para excluir os miseráveis de nosso país, pois ainda são muitos, para referendar minha tese a partir da maior parte de nossa pirâmide social, as classe C,B e A, era de se esperar que nossa juventude não tivesse limites para sua criatividade, para sua atuação aguerrida junto aos movimentos sociais e políticos, já que são os únicos que ainda atuam diretamente sobre suas liberdades e oportunidades de conquista.
No entanto o que vemos é uma massa alienada de jovens hipnotizados por tecnologias e conteúdos midiatizados, onde pouquíssimos conseguem produzir algo relevante para a sociedade, e a grande maioria se alimenta dos produtos instantâneos, com pouco sabor e sem nutrientes, fornecidos pela nova “indústria cultural”, tornando-os viciados no imediatismo superficial e desconhecedores da profundidade conceitual libertadora. Acredito que Adorno e Horkheimer não imaginavam que, em menos de um século, a tecnologia potencializaria tão grandemente, através da internet, a alienação e o desapego do conteúdo.
Não sou um radical preso ao passado, condenador das tecnologias e das facilidades advindas delas, sou um questionador dos modelos atuais seguidos pela juventude. Questiono o mau uso da tecnologia, o distanciamento das pessoas, o não envolvimento com as questões sociais, e a renegação das conquistas políticas, feitas a base de muita luta, que hoje são encerradas em campanhas pelo desprezo ao processo democrático.  A sociedade atual, formada pelas gerações de “fast-food” e redes sociais, “educadas” por instituições de ensino que mais parecem locadoras de cadeiras, onde os inquilinos recebem um certificado ao final do contrato, não consegue maximizar seu potencial criativo e transformador, e está sorumbática, alheia aos processos políticos, e as carências sociais de seu próximo.
Passo a entender que, após tantas conquistas, tanta evolução, nossa sociedade está se tornando fraca, preguiçosa, individualista e medíocre. Quem sabe o homem da atualidade não devesse ser conhecido como “Homem miojos”, para caracterizar um povo sem gosto, sem sustância, mas muito fácil de preparar e consumir.
Marcos Marinho
Professor e Consultor político
Twitter: @mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br

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