Maquiavel é um personagem
conhecido por suas observações e ensinamentos sobre as formas de dominar e
manter o controle sobre o povo. Mesmo
após séculos de sua morte, seus ensinamentos permanecem aplicáveis aos mais
diversos tipos de governos, e são efetivamente utilizados por seus governantes.
Com o passar dos tempos, seus artifícios foram ganhando adaptações e
ferramentas que aparelham os obstinados pela dominação.
Em sua época, Maquiavel
orientava príncipes que desconheciam a democracia, mas sabiam da importância de
manter seus súditos em um nível mínimo de satisfação, mesclando
equidistantemente os sentimentos de medo, gratidão, conformidade, participação
e dignidade, para lhes manter de pé e prontos para defender seu rei e suas
benesses garantidas dos ataques de outros conquistadores. Desde o século XVI o
povo tem sido tratado de forma estratégica para não perceber que seus
movimentos e pensamentos são tolhidos sutilmente pela habilidade dos que
conhecem a manipulação como forma de manutenção do poder.
É sabido que a manutenção do
poder, em vários momentos históricos, se deu pela força das armas, no entanto,
de algumas décadas para cá, utilizar armas para manter o domínio popular não tem
sido a melhor escolha, haja vista os conflitos na Síria e demais países do
Oriente Médio, que deixam para os dominadores apenas escombros. Dominar um
“reino” destruído, com um povo esfacelado, incapaz de prover riquezas ao seu governante,
torna amargo o sabor da conquista. Essa é, sem dúvida, uma visão maquiavélica.
A relação de dominação que
nós, brasileiros, conhecemos bem é econômica-social-intelectual. Somos subjugados
em nossos direitos básicos, recebemos de nossos senhores apenas o necessário
para mantermos um fio de esperança de uma vida melhor. Tal sentimento que, em
um regime capitalista, é o combustível para que continuemos rodando a roda de
ratos a que estamos presos, e que gera a energia necessária para manter o próprio
sistema. Recebemos um arremedo de educação que serve para nos doutrinar quanto
ao consumo das mídias, instrumentos utilizados para persuasão e controle
social. Somos formados também para sermos executores de ordens, ou como
ilustrou o grande Charles Chaplin, apertadores de parafusos que deixam suas
mentes em seus travesseiros.
Aprendemos como tudo deve
ser, como as coisas não podem ser mudadas, como somos incapazes de romper com
os paradigmas, como não adianta tentar, como é mais fácil ignorar do que se
envolver. Nós aprendemos que as coisas sempre foram assim, que o povo sempre
será submisso, que o governo sempre sugará nossos esforços e retribuirá com
serviços insuficientes, sabemos que nos tributará sobre nossos minguados ganhos
para sustentar seus gordos proventos, proventos que sempre serão distribuídos
entre os “nobres” que estão próximos aos imperadores que nos comandam.
Sendo franco, não condeno
Maquiavel, pois, se por um lado capitulou informações para dominação, por outro
nos deu ciência de como somos dominados. Temos hoje informações que podem nos
mostrar como evitar a aquiescência subserviente e impor nossas condições para sermos
favoráveis aos que momentaneamente ocuparão o cargo de gestores de nosso reino.
Penso que ao decodificarmos as artimanhas dos dominadores, percebendo suas
manipulações e dissimulações, poderemos reagir à altura, desconstruir as fábulas
que querem nos empurrar goela abaixo, e apresentar nossas requisições para
afiançarmos seu “domínio”.
Por sermos conscientes das
formas de dominação e, principalmente, entendermos que sem povo não há governo,
podemos barganhar melhor nosso apoio, nossa anuência aos projetos deste ou
daquele requerente da “coroa” ou, no nosso caso, da faixa verde e amarela. Se
dominássemos conscientemente a contra dominação, se não nos vendêssemos por
meia dúzia de moedas, se nos preocupássemos com o coletivo antes do
individualismo, faríamos jus à frase do personagem do filme V de Vingança: “não é o povo que deveria temer o governo,
mas o governo deveria temer o povo!”.
Fica fácil, a partir destas impressões,
entender por que os governantes insistem em manter o povo na ignorância,
alimentando-o com migalhas e alienação, oprimindo-o com chantagens eleitoreiras
e iludindo-o com cotas e reduções de impostos que nada mais são do que cortinas
de fumaça para encobrir os interesses dos cortesãos e a carência dos
governados. Nada fácil é a missão dos que já despertaram da catarse e lutam agora
para acordar outras mentes mas encontram resistência destas - não por
pertencerem às mesas dos dominadores, mas por serem equivocadamente satisfeitas
com as migalhas que delas caem.
Penso que a falta de coragem
dos oprimidos que já foram despertos de entrar pela porta da frente dos
palácios, destituir os dominadores e assentar em seus lugares, além do
comodismo, reside na dúvida se continuarão dignos, honestos e justos.
Marcos Marinho
Professor e consultor de Marketing.
twitter: @mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br
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