A evolução humana nos trouxe
a um momento ímpar na história da humanidade, desaprendemos a lutar pela
sobrevivência da espécie. Durante toda marcha do Australopitecos ao homem de
Cro-Magnom, e das caminhadas a passos largos do Homem moderno, sempre
mantivemos o ímpeto natural da sobrevivência, aquela centelha que não nos
permitia acomodar facilmente, que nos impulsionava à conquista e ao
desbravamento de lugares, coisas e ideias.
Ao logo de sua jornada
evolutiva o homem foi desenvolvendo meios de otimizar recursos, de reduzir a
carga de esforço necessária para sanar demandas físicas, emocionais e sociais.
Com o aparelhamento tecnológico, veio a dominação de tantos artifícios para
facilitar nossas vidas, que teoricamente deveriam nos proporcionar uma economia
de energia física e mental capaz de nos permitir viver por séculos!
As gerações passadas quebraram
tantos paradigmas, como - expectativa de vida, suscetibilidade a certas
doenças, preconceitos, dogmas, opressão econômica e social, modelos de governos,
padrões familiares, tabus sexuais, bem como moda, música e costumes -, que
aparentemente pouco sobrou para as novas gerações. As grandes conquistas
políticas já foram conseguidas, a inserção da mulher na sociedade, com direitos
iguais aos dos homens, já é entregue às garotas de hoje ao nascerem. Num país
sem guerras externas e civis como o nosso, a quebra de tantos paradigmas acabou
se tornando um paradoxo.
Com tantas liberdades
praticamente natas aos brasileiros de hoje, com tanta oportunidade educacional,
e neste momento peço permissão para excluir os miseráveis de nosso país, pois
ainda são muitos, para referendar minha tese a partir da maior parte de nossa
pirâmide social, as classe C,B e A, era de se esperar que nossa juventude não
tivesse limites para sua criatividade, para sua atuação aguerrida junto aos
movimentos sociais e políticos, já que são os únicos que ainda atuam
diretamente sobre suas liberdades e oportunidades de conquista.
No entanto o que vemos é uma
massa alienada de jovens hipnotizados por tecnologias e conteúdos midiatizados,
onde pouquíssimos conseguem produzir algo relevante para a sociedade, e a
grande maioria se alimenta dos produtos instantâneos, com pouco sabor e sem
nutrientes, fornecidos pela nova “indústria cultural”, tornando-os viciados no
imediatismo superficial e desconhecedores da profundidade conceitual
libertadora. Acredito que Adorno e Horkheimer não imaginavam que, em menos de
um século, a tecnologia potencializaria tão grandemente, através da internet, a
alienação e o desapego do conteúdo.
Não sou um radical preso ao
passado, condenador das tecnologias e das facilidades advindas delas, sou um
questionador dos modelos atuais seguidos pela juventude. Questiono o mau uso da
tecnologia, o distanciamento das pessoas, o não envolvimento com as questões
sociais, e a renegação das conquistas políticas, feitas a base de muita luta,
que hoje são encerradas em campanhas pelo desprezo ao processo democrático. A sociedade atual, formada pelas gerações de
“fast-food” e redes sociais, “educadas” por instituições de ensino que mais parecem
locadoras de cadeiras, onde os inquilinos recebem um certificado ao final do
contrato, não consegue maximizar seu potencial criativo e transformador, e está
sorumbática, alheia aos processos políticos, e as carências sociais de seu
próximo.
Passo a entender que, após
tantas conquistas, tanta evolução, nossa sociedade está se tornando fraca,
preguiçosa, individualista e medíocre. Quem sabe o homem da atualidade não devesse
ser conhecido como “Homem miojos”, para caracterizar um povo sem gosto, sem
sustância, mas muito fácil de preparar e consumir.
Marcos Marinho
Professor e Consultor político
Twitter:
@mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br