Espaço destinado ao registro das percepções críticas de um cidadão brasileiro sobre política, comunicação, comportamento e demais assuntos pertinentes à sociedade contemporânea.
Uma visão técnica do ponto de vista do marketing e apaixonada do ponto de vista humano. Leia, critique e replique à vontade!

domingo, 9 de dezembro de 2012

Brasileiro, o eterno vira-lata?



Autoestima. É disso que fala este texto. Não simplesmente em nível pessoal, mas em âmbito de sociedade, de povo, do povo brasileiro.
Somos um povo complexo, permeado por miscigenações culturais acima das genéticas. Somos na verdade vários povos em um, que desenvolveram ritos, hábitos, comportamentos e visões que nos conduzem por caminhos destoantes, mas que nos trouxeram até aqui e nos levarão além.
A razão deste texto é trabalhar um efeito colateral de nossa intrincada e complexa formação social, a “síndrome de vira-lata”. Aqui parafraseando o grande Nelson Rodrigues e seu complexo, direcionado ao campo futebolístico.  Vou bastante além da referência, e trago nosso debate para um viés onde nos veremos, nós, povo brasileiro, como os cães vira-latas, que almejam e se regozijam com nada mais do que comida, abrigo e afagos.
Para consubstanciar este texto me obrigo a mencionar nosso cenário político atual. Vivemos há 10 anos sob uma estrela que ascendeu aos céus do poder atuando de forma objetivamente emocional nas carências sociais. Ignorando uma herança positiva, e não digo isso por apreço partidário, o governo “pseudo-trabalhador, que nos direciona jazem dois mandatos e meio, atua de forma evidenciada com medidas que ressaltam nossa já citada síndrome.
Mantendo o foco no assistencialismo, dando comida e abrigo aos necessitados, afagando as cabeças eleitoras com artifícios midiáticos e festivos, e cooptando ou eliminando possíveis focos de oposição, nossos governantes tem feito sua parte para manter seu plano de poder - o qual só prevalece enquanto sua base for calcada na subserviência intelectual e eleitoral. Se, por alguns minutos, nossos olhos se descortinarem e superarem a névoa artificial que circula as “divindades” presidenciais e ex-presidenciais veremos que nossa situação é periclitante.
Como bons vira-latas, vivemos no aguardo dos planos miraculosos que nos alimentarão, das bolsas e projetos que nos manterão à sombra do autodesenvolvimento e da conquista da ascensão. Pois todo projeto que nos é posto é, de fato, limitador. Não vemos atrelado ao assistencialismo a colocação ou recolocação profissional, e a formação efetiva aliada ao encaminhamento para o mercado de trabalho, que posso lhes afiançar estar carente de mão-de-obra.
O que me motivou a escrever este texto foram também os últimos acontecimentos midiatizados, servindo de estopim para detonar algo que já me era latente. Pude acompanhar na mídia impressa e digital, após o último escândalo envolvendo o eterno presidente Luiz Inácio Lula da Silva, várias manifestações de apreço e apoio à sua irretocável figura. Algumas pessoas se armando de toda indignação e ferocidade, e saindo em defesa da honra do ex-presidente, novamente acusando tudo e todos, talvez até a bíblia, de estarem errados ao citar o nome do ex-metalúrgico, envolvendo-o em mais um escândalo do qual ele nada sabia.
Trago a reflexão sobre a “síndrome de vira-lata” porque percebo neste tipo de manifestação, onde o objeto de devoção se torna impossível de ser arrolado em imundas atitudes humanas como corrupção, traição, entre outras tantas malfeitorias, uma aproximação do radicalismo ideológico/religioso que levou o mundo para quase todas as guerras e genocídios das quais temos notícias. Não acredito que chega a tanto, mas reforço minha tese observando a forma como essas pessoas reagem, e o quanto são gratas e idolatram alguém que nada fez se não sua obrigação!
Exatamente, nenhum político que cumpra com suas obrigações pertinentes ao cargo ocupado, seja honesto, e neste caso falo dos que realmente são honestos, atue com diligência, cuide dos necessitados e promova o crescimento de sua cidade, estado ou país está fazendo algo que não lhe coubesse ao assumir a cadeira. Essa síndrome de vira-lata é que nos faz aceitar todas as desgraças proporcionadas pelos atores políticos, desde que tenhamos comida, abrigo e afago. Nossa visão do serviço público e da atuação dos políticos nas gestões públicas é tão distorcida, que já nos acostumamos com a sujeira e as barbaridades cometidas por eles, e quando sentimos a falsa impressão de que este ou aquele político nos está fazendo o bem, e nisso sendo diferente dos que entendemos como “a regra”, passamos a endeusá-lo e considerá-lo acima do bem e do mal já que, afinal, está nos permitindo saciar algumas demandas.
Caro leitor, político é funcionário público pago com seu dinheiro. Ser honesto e digno não é qualidade, mas sim requisito básico para quem se propõe a gerir ou legislar pelo povo. Não podemos, simplesmente por termos recebido alguns benefícios deste ou daquele político, aceitar tudo de errado que por ventura ele tenha realizado ou assentido com sua omissão.
Não é possível que, após tantos escândalos, parte de nossa população ainda atue como certos “fiéis” que não conseguem enxergar o homem por baixo da faixa (e olha que nem existe mais esta faixa!) e ainda desconsiderem a possibilidade de investigar este ou aquele pretenso salvador da pátria. Não pré-julgo ninguém, apenas manifesto meu desejo de que os fatos sejam averiguados, independente de quem deverá ser inquerido. Não podemos continuar aceitando pessoas que se julgam acima da lei, e mais ainda nós não podemos julgá-las acima da lei.
Toda benfeitoria que qualquer ator político tenha realizado durante seu mandato, toda conduta ilibada e livre de sujeiras e tramoias não deve ser exaltada como a coisa mais incomum, pois deveriam ser pré-requisitos para estas pessoas estarem onde estão. Sei que neste momento alguns leitores estão pensando: “mas não é assim que as coisas funcionam!”. E nunca será, se continuarmos como os vira-latas que já nos consideram, e continuarmos revirando o lixo apenas atrás de comida.

Marcos Marinho
Professor e consultor político
Membro da Ass. Brasileira de Consultores Políticos – ABCOP
Twitter: @mmarinhomkt
Contato: marcos@mmarinhomkt.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário