Onipotência, capacidade até
então atribuída a Deus, dado seu poder supremo sobre todas as coisas. Sem
apelar para a religiosidade, apresento minha descrença pessoal em todo aquele
que julga a si mesmo detentor de alguma forma de poder que sobrepuje os demais
mortais.
Mantenho minha posição
descrente frente a qualquer manifestação humana de onipotência, seja ela financeira,
bélica, midiática ou até carismática, sendo essa última muito peculiar aos que
estiveram em algum momento nos “braços do povo” - e por este feito acreditam
que seus retratos ainda estampem paredes de casebres populares e entidades
calcadas no assistencialismo. Entendo que ninguém é capaz de vencer todo tipo
de adversidade que lhe venha sobre os objetivos, principalmente na dependência exclusiva
de sua força.
Julgo contrassensual um
político que se utilizou sabiamente do modelo do “Common Man”, do “homem
simples” que, segundo o escritor Roger-Gérard Schwartzenberg, é uma das
possíveis imagens que a população pode fazer de um político, transmutar-se para
a imagem do Rei Sol, o qual propalava ser ele o estado. Se para alcançar o
posto mais alto da hierarquia executiva de nosso país, vestir-se de humildade
foi a roupa que melhor lhe apresentava, assumir agora uma postura soberba e agressiva
frente ao processo eleitoral brasileiro, afrontando sorrateiramente sua
legislação e, pior ainda, se colocando como capaz de “proibir” uma sucessão democrática
ao governo da nação, me suscita questionamentos: “crise de identidade?” ou “simples
substituição de papel?”
Como já sabia Marx, “toda
hegemonia traz em si sua contra-hegemonia”, e desta forma penso que propalar-se
decisor supremo dos destinos da nação, capaz de escolher quem lhe sucede e
precede, engessando todo processo evolutivo de um país para que fique de acordo
com sua visão unilateral do bem comum é gerar nas entranhas do sistema uma prole
que cedo ou tarde requererá seu direito de lutar contra o regime que conhece
por situação.
Manter-se presente no
cenário político é mister aos que vivem de sua atividade pública, lutar por sua
representatividade junto à sociedade faz parte da estratégia dos que almejam o
poder, no entanto posicionar-se com força exacerbada, caricata, arrogante ou
demagógica contribui para desconstruir a “boa” imagem que outrora representava seu
nome, sua presença. Repintar o retrato fixado nas mentes de seus seguidores com
tintas demasiadamente fortes pode causar-lhes desconforto e repulsa.
Ademais, afirmo que apontar
armas aos quatro ventos, acreditando na blindagem popular adquirida por feitos
passados, soa-me desinteligente e absurdo, principalmente em se tratando de um
povo conhecido por sua falta de memória, que sobre as demandas coletivas sempre
atua em prol das benesses individuais.
Marcos Marinho
Twitter: @mmarinhomkt
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