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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Internet & Política

Chegamos ao fim de um ano bastante movimentado no cenário político local e nacional. As Eleições 2014 transcorreram em um clima de muita beligerância, o que ecoa ainda hoje com resultados que, obviamente, não agradaram a todos - fato inerente a qualquer processo eletivo.

Imagem: http://www.culturamix.com/
Fazendo um balanço sobre as campanhas eleitorais deste ano, afirmo que não houve grandes evoluções nem do lado de que buscava o voto, nem de quem buscava em quem votar. Ainda não foi em 2014 que vimos alguma campanha capaz de engajar e mobilizar a sociedade em prol de um representante, tampouco vimos algum grupo civil organizado mobilizando-se a fim de fazer prevalecer suas demandas e aspirações em apoio ou oposição às propostas apresentadas pelos candidatos.

As redes sociais serviram, em sua maior parte, como palco para embates de militâncias e equipes contratadas para atacar e/ou defender aqueles candidatos que tinham verba suficiente para estes serviços.

Este fato nos obriga a pensar o que falta para haver uma aproximação mais produtiva entre políticos e cidadãos. Não limitando essa relação aos momentos de cooptação de votos, mas entendendo a importância do envolvimento entre estes personagens porque uns impactam diretamente nas vidas dos outros.

Analiso que da parte dos políticos faltou conhecimento, preparo e interesse em realmente se comunicar com os cidadãos. Conhecimento porque não buscam se atualizar sobre as ferramentas comunicacionais nem fazem uso regular delas durante seus mandatos, o que reforça minha hipótese de falta de preparo. Mas o principal problema é a falta de interesse em se comunicar. E entendamos comunicação como um processo bilateral onde deve haver momentos de emissão e recepção de mensagens, ou seja, é preciso falar, mas também ouvir o cidadão.

Sem o hábito de receber, até pela falta de canais, demandas de seus eleitores e com o costume do monologar em discursos na época da eleição, os representantes do povo não mais se percebem como povo após serem diplomados, abandonando o dialogo com seus representados. Como a internet dá espaço para a fala destes representados, rompendo com o silêncio e excluindo muitos filtros antes impostos pelos canais tradicionais de comunicação, os políticos se intimidam e se ausentam.

Por outro lado também temos a ausência dos cidadãos nas discussões sobre assuntos que envolvem o bem comum, a polis, a política. Muito ativos nas redes sociais quando os temas curtidos e compartilhados versam sobre animaizinhos, bebezinhos, pegadinhas ou qualquer banalidade da moda, não há uma mobilização expressiva em prol dos assuntos que efetivamente contribuem para uma melhor qualidade de vida para todos.

Lanço também algumas possibilidades para esse afastamento: desconhecimento, desinteresse e desinformação. O desconhecimento sobre o tema fatalmente dificulta a participação do cidadão. Esse fato é notório quando avaliamos o tipo de educação que é ofertada às crianças e adolescentes sobre política. Nenhuma. Desta forma vemos pessoas que podem encontrar seu lugar de fala sobre temas sociais, mas que possivelmente não saibam o que dizer, pois não foram politizadas para isso.

O desinteresse se associa em certo grau ao desconhecimento, pois a ignorância também rouba o entendimento sobre a importância do tema e faz com que a pessoa o relegue a outras ou a um nível desimportante. Mas também devemos considerar o desfavor prestado por grande parte dos políticos que insistem em estampar diariamente as manchetes de jornais em divulgações de escândalos. Associados à sujeira, corrupção e roubalheira, compondo assim uma representação social extremamente negativa, é muito fácil perceber porque as pessoas não querem se envolver com os assuntos políticos: não querem se sujar.

Finalizo comentando sobre a desinformação, fruto, talvez, da hiperinformação recebida cotidianamente. Sem confirmação de fontes, com descrédito em muitas, e com várias versões desencontradas que primam pelos interesses dos envolvidos, o cidadão se sente perdido entre os acontecimentos que o soterram sem dar-lhe tempo para o devido processamento e interpretação dos dados percebidos.

É certo que temos agora um lugar de fala amplo, potente e disponível para ambos os lados, mandatários e cidadãos. Termos como e-participação já começam a ganhar força entre os estudiosos da comunicação política e nos aponta as possibilidades de engajamento e mobilização da sociedade em prol de suas demandas e direitos políticos, indo ao encontro ou de encontro àqueles que se oferecem para representá-los.
Marcos Marinho
Professor e Consultor Político

@mmarinhomkt

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