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domingo, 18 de maio de 2014

Sou a favor dos justiceiros

No Brasil estamos acostumados aos rótulos sociais que surgem e são amplamente divulgados, aceitos e ostentados de ano em ano. Já tivemos os “cara-pintadas”, os “manifestantes”, os “rolêzeiros” e, hoje, temos os justiceiros.

A acepção da palavra justiceiro nos remete ao conceito de justiça, de quem faz justiça, o que, neste caso, seria efetivamente algo muito bem vindo devido a atual situação de nosso país, onde convivemos com o medo, a miséria, o desrespeito por parte dos entes públicos, a falta de educação e civismo apresentada por grande parte da população, enfim um momento caótico para a sociedade.

No entanto as pessoas que estão sendo rotuladas como “justiceiros” não representam a justiça, não são membros do poder judiciário, tampouco manifestam em seus atos o conceito de justiça ou lutam conscientemente por esta.

Uma definição simples da palavra justiça seria: Prática e exercício do que é de direito. Por entender justiça como um conceito mais amplo e abrangente trago Aristóteles, que defendia a Justiça como “virtude”, associando legalidade e igualdade.

O que temos visto na mídia em hipótese alguma pode ser chamado de justiça! Sendo assim, nominar os assassinos e espancadores que promovem as cenas mais torpes e indignas de qualquer sentido de humanidade de justiceiros está equivocado. Estamos diante de bandidos que se acham no direito de exterminar quem eles consideram bandidos.

É confortável justificar as atrocidades que vem sendo cometidas por estes grupos de ensandecidos, nas ausências e ineficiências do estado, afinal é dele a responsabilidade por não nos expor à violência. A ineficiência dos governos tem contribuído para geração de toda descrença e desespero que usamos para validar os comportamentos irracionais apresentados por estas pessoas, mas ainda assim tal comportamento pode ser justificado?

Neste caso é muito importante que entendamos que estas ações de linchamento e massacre em nada têm a ver com justiça, mas sim com um sentimento de desforra, de revide que, ao invés de ser canalizado e utilizado para realmente se exigir o cumprimento das funções de governo, ao invés de ser usado para fiscalizar e reivindicar o cumprimento rígido das leis de nossa constituição, dos direitos humanos universais e do estatuto da criança e do adolescente, é simplesmente usado para acobertar o instinto animal e covarde daqueles que não são nem justos nem corajosos para mudar seu status quo.

Sou favorável aos justiceiros, mas àqueles que exercem o papel legal de julgadores e executores das leis, e são constituídos e formados para isso. Sou a favor dos justiceiros, dos homens e mulheres que dedicam suas vidas para verem cumprida a legislação que garante direitos e deveres, pessoas que lutam por causas que beneficiam a sociedade, causas que dão dignidade e respeito a todos, e visam corrigir injustiças.

Não há justiça na vingança, na destruição da vida humana, na agressão física e psicológica contra quem é suspeito de um crime, nem a quem já foi  condenado pela comprovação de seu delito.Toda pessoa deve receber a punição prevista em lei e ter a possibilidade de se regenerar, se arrepender e mudar. A morte não muda o criminoso. O atual sistema carcerário não reeduca o apenado. A ausência de políticas públicas e sociais que garantam as condições mínimas para que o cidadão possa escolher não viver do crime, não contribui para diminuir a criminalidade.

Vivemos um dos momentos mais desordenados de nossa sociedade. Descrédito nos poderes constituídos, nas instituições e no ser humano, tem nos feito adotar posturas equivocadas, nos tornando inertes na maioria das vezes, ou animalescos em casos extremos.

Somos, enquanto partícipes da sociedade, muitas coisas, mas certamente o adjetivo justo não nos cabe da forma como acreditamos. Se formos respeitosos uns para com os outros, colaborativos e igualitários em nossas relações, cumpridores dos nossos deveres e perseguidores dos nossos direitos, aí sim teremos condição de promover a justiça que nos foi usurpada.
Marcos Marinho
Professor e Consultor político

@mmarinhomkt

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