Nesta semana ocorreu o
primeiro jantar, organizado pela militância jovem do PT de Brasília, com o
objetivo de angariar recursos para o pagamento das multas sofridas pelos
líderes do partido, José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. As multas
chegam a R$1,46 milhão de reais.
Vejo esta atitude por
dois vieses e vou compartilhá-los contigo, amigo leitor. Primeiramente, olho de
forma isenta do contexto em que esta situação toda se insere, e digo ser
fantástica a atitude desta militância. Quão poderoso é o valor que une estes
jovens à sua causa! Adoto aqui “valor” como sendo os princípios que normatizam
a conduta social.
Engajados em uma causa,
e discordantes dos destinos impostos aos seus líderes, pessoas sob uma sigla
decidem organizar eventos de desagravo, arrecadações monetárias e manifestações
públicas em prol da honra e do custeio das penas sofridas por aqueles que os
dirigem. Demonstração de fidelidade e companheirismo causadora de inveja em
qualquer outro coletivo. Particularmente não acredito que este tipo de
demonstração ocorresse em outro segmento social, outro partido, outro grupo
qualquer, por mais corporativista que fosse. Em se tratando do meio político,
então, aí que não acredito mesmo.
O segundo ponto de
vista que quero abordar necessita de uma contextualização, pois torna a atitude
acima narrada bem menos valorosa.
Os senhores que figuram
à cabeceira da mesa principal do evento acima mencionado são os atores
principais de um dos maiores escândalos políticos de nossa história recente.
Foram acusados, julgados e condenados após uma jornada jurídica que durou anos
e foi avaliada pela mais alta corte de nosso país, o Supremo Tribunal Federal.
Com amplo direito de
defesa, configurado em nossa constituição, orquestrado por reconhecidos e caros
juristas, o julgamento seguiu todos os ritos e processos previstos nos mais
rigorosos protocolos judiciais - levados a cabo por uma plêiade de juízes com o
mais alto grau de competência e em boa parte indicados pela mesma sigla dos réus.
Fato que deveria excluir possíveis acusações de partidarismos ou tendencial
direcionamento dos votos apenadores.
Ao analisar este evento
gastronômico-partidarista por esse outro viés, percebo-o em um primeiro momento
como uma afronta ao processo democrático, onde todo cidadão possui direitos e
deveres iguais, sendo passível, independente de sua posição ou condição, de
receber todo suporte que favoreça a obtenção de seus direitos bem como toda
punição em retaliação ao não cumprimento ou descumprimento de seus deveres e possíveis
desvios legais.
Imaginemos que os
comparsas de Fernandinho Beira-Mar, descontentes com suas condenações,
decidissem promover grandes churrascadas e cervejadas nas lajes de milhares de
favelas Brasil afora, em desagravo à “perseguição” sofrida por seu líder, a fim
também de arrecadar fundos para atenuar suas despesas judicias. Será que
teríamos uma conivência midiática e social neste caso? Não causaria reboliços e
indignações este fato, por afrontar as Cortes que fizeram seu trabalho? Haveria
questionamentos das provas, do julgamento, da atuação da mídia e da falta de
condições do serviço prisional brasileiro? Não estou comparando os senhores
citados no início deste texto com o senhor citado agora, em tipos de crimes ou
nível de condenação social, os uso apenas para ilustrar uma situação de
condenação jurídica e a não aceitação da mesma por setores da sociedade.
Já trabalhei esta
questão em outros textos: tenho muito medo do fanatismo! Quando somos tão
visceralmente engajados em causas que são, principalmente, lideradas por
homens, não é salutar eximí-los de sua condição humana. Homens erram, falham,
se desviam do caminho. Quando julgamos que nossos líderes são isentos de
qualquer culpabilidade, quando seus feitos nos são tão maravilhosos a ponto de
não aceitarmos que lhes recaiam a crítica e a condenação, começamos a trair os
mesmos ideais que defendemos.
À militância as paixões
idealistas e ao partido as decisões pragmáticas. Penso que esta situação está
sendo tratada internamente, mesmo que apenas nos bastidores, de formas
antagônicas. Enquanto a juventude PTista faz barulho para enobrecer seus heróis,
ato válido na ótica dos valores que supracitei, o partido precisa se
reorganizar para desanuviar de vez os nebuloso céu que tenta esconder sua
estrela, outro ponto que também é lícito se entendermos que o partido e sua
ideologia devem ser maior que seus indivíduos, pelo bem do coletivo.
Provavelmente os pratos
servidos nos jantares em prol dos companheiros condenados sirvam para
homenageá-los mais do que custeá-los. Possivelmente uma pequena parcela da
militância continuará aos pés de seus mártires e os recepcionará de braços
abertos e faixas na cabeça às portas das penitenciárias, quando de suas
liberações. Acredito que o grande contingente militante se manterá fragmentado
até o levante de novos e unificadores líderes, enquanto o partido permanecerá articulando,
cooptando e midiatizando estratégias para manutenção de seu projeto de poder, o
que infelizmente tem sobrepujado seu projeto de governo.
Marcos Marinho
Professor e Consultor político
Twitter: @mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br
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