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domingo, 4 de novembro de 2012

Manipulação em 220 Volts



Estamos vivenciando nestes últimos dias algumas experiências não muito agradáveis proporcionadas pelas forças da natureza. A onda de calor que assola nossa cidade, e também o restante do país, gerou milhares de reclamações nas redes sociais e nas conversas de rua, além de um certo desânimo, muito cansaço, e muito, muito consumo de energia elétrica por parte dos condicionadores de ar, ventiladores e demais paliativos contra o desconforto do aumento da temperatura. Preciso citar também outro manifesto da natureza, o Furacão Sandy, que passou pelas Américas: Central e do Norte, causando muitos estragos e ceifando vidas.
Quero pontuar, aqui, nossa grande parcela de responsabilidade principalmente sobre o aumento da temperatura. É fato que o homem destruiu o meio ambiente, desmatou, consumiu, depredou, sujou, modificou e não se preocupou com as consequências disto por séculos. E seguimos poluindo e alterando tudo o que pode se entrepor ao nosso caminho para a satisfação dos desejos humanos pelo conforto. Digo isso porque não acredito que precisaríamos, de fato, fazer tudo isso para atender às necessidades humanas.
Partindo destas análises sobre nosso comportamento em relação à natureza e os impactos que tem nos causado, e expandindo minhas percepções após uma excelente conversa com um novo, e sábio, amigo, passei a avaliar que juntamente ao processo de evolução tecnológica que batalhamos tanto para promover, proporcionamos uma excelente oportunidade aos poderosos de nossa sociedade de nos controlar e dominar. Tornamo-nos dependentes de artefatos e traquitanas elétricas e eletrônicas, convencidos de terem sido criados simplesmente para nos proporcionar qualidade de vida, sem perceber que, voluntariamente, estávamos entregando nossas vidas em mãos invisíveis, porém manipuladoras.
Quantos eletrodomésticos e artigos eletrônicos existem em sua casa? No seu local de trabalho? Na sua escola ou faculdade? Quantos destes artigos te livraram da dependência do esforço físico em prol da velocidade e praticidade? Quantos destes artigos te fizeram esquecer como era possível executar algumas tarefas antes de suas redentoras invenções? Quantas destas ferramentas de uso cotidiano, que substituíram em alguns casos outras pessoas ou o seu próprio engajamento na execução do trabalho por ela realizado, o fazem ficar apreensivo e até desesperado quando falta energia elétrica?
É meu dileto leitor, esse é o grande ponto, essa é a chave da dominação, a energia elétrica! Digo a elétrica porque as outras fontes de energia ainda são incipientes dentro da nossa sociedade, sem contar a fóssil que já não ocupa mais nossas residências, senão as garagens. Pode soar extremista de minha parte, chegando até parecer “conspiracional” demais, mas percebi que nossa intrínseca relação com a energia elétrica gerou uma dependência tão forte que basta ficarmos 30 minutos sem ela que o mundo pára e o caos se instala. Temos tido muitas oportunidades para confrontarmos essa afirmação, já que nossa CELG tem nos presenteado com apagões quase diários, e já fomos avisados de que esses foram apenas o começo, pois as chuvas, fenômeno preferido das desculpas dadas pela empresa, ainda nem começaram.
Façamos uma análise mais ampla: antigamente as casas eram térreas, as pessoas tinham poucos eletrodomésticos, consumiam menos eletricidade, despendiam tempo e energia “física” para executar as tarefas que faziam “o mundo girar”, e o mundo não parava. Atualmente as pessoas moram em prédios enormes e dependem de elevadores, possuem um sem número de eletroeletrônicos que fazem quase tudo por elas, sem esforço e com uma enorme economia de tempo, mas que só funcionam ligados à rede elétrica. As cidades se automatizaram, e realizam suas funções de atendimento, gestão, controle de tráfego e serviços via energia elétrica, as empresas então, nem se fala, todas extremamente dependentes desta fabulosa fonte de energia. Porém, esquecemo-nos de uma coisa: o controle desta fonte vital de energia não está concentrado nas mãos do povo, mas sim nas garras de poucos poderosos que não demonstram muito interesse em assegurar a manutenção deste sistema, caso suas aspirações não se confirmem.
Ao escutar várias notícias sobre a precariedade de nosso sistema de distribuição de energia, a falta de manutenção dos terminais geradores e cabeamentos, a incompatibilidade entre geração e consumo desta energia por nossa população, fico questionando se esta relação não se assemelha em algum nível à relação protagonizada pelos traficantes e seus usuários, onde um vicia o outro em seu produto e depois o manipula e extorque até este sucumbir de vez aos seus desejos. Pode parecer muito forte esta alegoria, mas a usei para referendar a fragilidade humana frente suas dependências, o que nos torna facilmente manobráveis, intimidáveis e corruptíveis.
Não sou alheio às tecnologias, nem tão pouco adepto de teorias de conspiração, mas penso ser importante que reflitamos sobre as formas de dominação ás quais somos expostos, muitas vezes, sem perceber. Não faço apologia ao desaparelhamento tecnológico ou a ruptura com a tecnologia, apenas deixo aqui minha provocação sobre como estamos sendo conduzidos, ameaçados e impelidos a escolhas, sem que correlacionemos alguns fatos e identifiquemos possíveis estratégias para nos tornar, a cada dia, mais dependentes e manipuláveis por pseudos salvadores da pátria.
Existem várias formas para geração de energia que não agridem o meio ambiente e podem ser geradas de maneira autônoma, sem depender de grandes centrais que as distribuam. Podemos gerar a energia consumida por nossas unidades domiciliares de formas limpas, usando o vento, o sol, o processamento de resíduos (biomassa), o trabalho físico, entre outras que dependem de oportunidades geográficas e naturais, mas que não necessariamente dependem de gigantescas estruturas governamentais ou empresariais. A questão é: os governos estão interessados em divulgar isto? Estão interessados em financiar isto? Querem perder o controle sobre o modo de vida de sua população? Querem perder a absurda fonte de renda e poder gerada por suas centrais energéticas?
Somos dependentes dos interesses de poucos, penamos sob a articulação política e econômica de uma minoria que domina em nível mundial, os meios para manter as cidades funcionando. Acredito que temos potencial para sermos verdadeiramente livres dos monopólios que regem nossas vidas, não sei, na verdade, é se temos habilidade relacional e colaborativa suficientes, para nos ajudarmos uns aos outros a romper com este sistema.
Marcos Marinho
Professor e Consultor de Marketing.
twitter: @mmarinhomkt

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