Estamos vivenciando
nestes últimos dias algumas experiências não muito agradáveis proporcionadas
pelas forças da natureza. A onda de calor que assola nossa cidade, e também o
restante do país, gerou milhares de reclamações nas redes sociais e nas
conversas de rua, além de um certo desânimo, muito cansaço, e muito, muito
consumo de energia elétrica por parte dos condicionadores de ar, ventiladores e
demais paliativos contra o desconforto do aumento da temperatura. Preciso citar
também outro manifesto da natureza, o Furacão Sandy, que passou pelas Américas:
Central e do Norte, causando muitos estragos e ceifando vidas.
Quero pontuar, aqui,
nossa grande parcela de responsabilidade principalmente sobre o aumento da
temperatura. É fato que o homem destruiu o meio ambiente, desmatou, consumiu,
depredou, sujou, modificou e não se preocupou com as consequências disto por
séculos. E seguimos poluindo e alterando tudo o que pode se entrepor ao nosso
caminho para a satisfação dos desejos humanos pelo conforto. Digo isso porque
não acredito que precisaríamos, de fato, fazer tudo isso para atender às
necessidades humanas.
Partindo destas
análises sobre nosso comportamento em relação à natureza e os impactos que tem
nos causado, e expandindo minhas percepções após uma excelente conversa com um
novo, e sábio, amigo, passei a avaliar que juntamente ao processo de evolução
tecnológica que batalhamos tanto para promover, proporcionamos uma excelente oportunidade
aos poderosos de nossa sociedade de nos controlar e dominar. Tornamo-nos
dependentes de artefatos e traquitanas elétricas e eletrônicas, convencidos de
terem sido criados simplesmente para nos proporcionar qualidade de vida, sem
perceber que, voluntariamente, estávamos entregando nossas vidas em mãos
invisíveis, porém manipuladoras.
Quantos
eletrodomésticos e artigos eletrônicos existem em sua casa? No seu local de
trabalho? Na sua escola ou faculdade? Quantos destes artigos te livraram da
dependência do esforço físico em prol da velocidade e praticidade? Quantos
destes artigos te fizeram esquecer como era possível executar algumas tarefas
antes de suas redentoras invenções? Quantas destas ferramentas de uso
cotidiano, que substituíram em alguns casos outras pessoas ou o seu próprio
engajamento na execução do trabalho por ela realizado, o fazem ficar apreensivo
e até desesperado quando falta energia elétrica?
É meu dileto leitor,
esse é o grande ponto, essa é a chave da dominação, a energia elétrica! Digo a
elétrica porque as outras fontes de energia ainda são incipientes dentro da
nossa sociedade, sem contar a fóssil que já não ocupa mais nossas residências,
senão as garagens. Pode soar extremista de minha parte, chegando até parecer
“conspiracional” demais, mas percebi que nossa intrínseca relação com a energia
elétrica gerou uma dependência tão forte que basta ficarmos 30 minutos sem ela
que o mundo pára e o caos se instala. Temos tido muitas oportunidades para
confrontarmos essa afirmação, já que nossa CELG tem nos presenteado com apagões
quase diários, e já fomos avisados de que esses foram apenas o começo, pois as
chuvas, fenômeno preferido das desculpas dadas pela empresa, ainda nem
começaram.
Façamos uma análise
mais ampla: antigamente as casas eram térreas, as pessoas tinham poucos
eletrodomésticos, consumiam menos eletricidade, despendiam tempo e energia
“física” para executar as tarefas que faziam “o mundo girar”, e o mundo não
parava. Atualmente as pessoas moram em prédios enormes e dependem de
elevadores, possuem um sem número de eletroeletrônicos que fazem quase tudo por
elas, sem esforço e com uma enorme economia de tempo, mas que só funcionam
ligados à rede elétrica. As cidades se automatizaram, e realizam suas funções
de atendimento, gestão, controle de tráfego e serviços via energia elétrica, as
empresas então, nem se fala, todas extremamente dependentes desta fabulosa
fonte de energia. Porém, esquecemo-nos de uma coisa: o controle desta fonte
vital de energia não está concentrado nas mãos do povo, mas sim nas garras de
poucos poderosos que não demonstram muito interesse em assegurar a manutenção
deste sistema, caso suas aspirações não se confirmem.
Ao escutar várias
notícias sobre a precariedade de nosso sistema de distribuição de energia, a falta
de manutenção dos terminais geradores e cabeamentos, a incompatibilidade entre
geração e consumo desta energia por nossa população, fico questionando se esta
relação não se assemelha em algum nível à relação protagonizada pelos
traficantes e seus usuários, onde um vicia o outro em seu produto e depois o
manipula e extorque até este sucumbir de vez aos seus desejos. Pode parecer
muito forte esta alegoria, mas a usei para referendar a fragilidade humana
frente suas dependências, o que nos torna facilmente manobráveis, intimidáveis
e corruptíveis.
Não sou alheio às
tecnologias, nem tão pouco adepto de teorias de conspiração, mas penso ser
importante que reflitamos sobre as formas de dominação ás quais somos expostos,
muitas vezes, sem perceber. Não faço apologia ao desaparelhamento tecnológico
ou a ruptura com a tecnologia, apenas deixo aqui minha provocação sobre como
estamos sendo conduzidos, ameaçados e impelidos a escolhas, sem que
correlacionemos alguns fatos e identifiquemos possíveis estratégias para nos
tornar, a cada dia, mais dependentes e manipuláveis por pseudos salvadores da
pátria.
Existem várias formas
para geração de energia que não agridem o meio ambiente e podem ser geradas de maneira
autônoma, sem depender de grandes centrais que as distribuam. Podemos gerar a
energia consumida por nossas unidades domiciliares de formas limpas, usando o
vento, o sol, o processamento de resíduos (biomassa), o trabalho físico, entre
outras que dependem de oportunidades geográficas e naturais, mas que não
necessariamente dependem de gigantescas estruturas governamentais ou
empresariais. A questão é: os governos estão interessados em divulgar isto?
Estão interessados em financiar isto? Querem perder o controle sobre o modo de
vida de sua população? Querem perder a absurda fonte de renda e poder gerada por
suas centrais energéticas?
Somos dependentes dos
interesses de poucos, penamos sob a articulação política e econômica de uma
minoria que domina em nível mundial, os meios para manter as cidades
funcionando. Acredito que temos potencial para sermos verdadeiramente livres
dos monopólios que regem nossas vidas, não sei, na verdade, é se temos
habilidade relacional e colaborativa suficientes, para nos ajudarmos uns aos
outros a romper com este sistema.
Marcos Marinho
Professor e
Consultor de Marketing.
twitter:
@mmarinhomkt
Posso dizer que contamos com o final dos tempos.
ResponderExcluirbeijos!!!!