Dois mil e doze tem
sido um ano atribulado para a política nacional. Estamos tendo, até onde me
lembro, o ano mais repleto de escândalos, julgamentos, dissimulações,
condenações importantes, embates e debates políticos dos últimos tempos.
Muita gente se molhou
nas cachoeiras de notícias “bombásticas” que nos foi vertida pela mídia. Muita
gente se surpreendeu com os resultados de julgamentos que, num primeiro
momento, pareciam infindáveis e fadados ao nada. Também muita gente acompanhou
“just in time” todas as sessões da CPMI do Cachoeira e dos julgamentos do STF,
tentando traçar suas conjecturas sobre o futuro político da nação. Este fato
apresentou uma forma extremamente nova de audiência, demonstrou que uma parte
da população deseja entender mais sobre os anais políticos, sobre a atuação dos
parlamentares quando julgam seus pares, e do Supremo, corte máxima de nosso
país, quando se põe a fazer justiça sobre todos.
Tivemos momentos de
grande excitação popular, quando a suprema corte condenou figuras poderosas de
nossa sociedade. Tivemos momentos de desânimo, quando percebemos que a CPMI do
Cachoeira iria acabar, como nosso povo já está acostumado, em pizza. Ocorreu
até um pleito durante este ano, onde as cidades brasileiras tiveram a
oportunidade de mandar um recado para os partidos políticos que dominam a cena
atual. Algumas cidades se valeram do direito do voto para mudar seus gestores,
buscando novas ideias e quebrando as grades opressoras e vilipendiadoras do
continuísmo ditado pelos coronéis. Outras se mantiveram na inércia.
Fomos durante este ano
uma audiência fiel, cativa, para as versões editadas que nos foram postas à mesa
pelos meios de comunicação. Fomos adicionados de uma lépida sensação de
liberdade de expressão e poder de participação, ao atuarmos através das redes
sociais, colocando nossa indignação em 140 caracteres, fotos e desabafos postados,
compartilhados e curtidos. Engrossamos o coro por justiça, que ecoou pelas
câmaras e tribunais, reprovamos aumentos de salários, estimulamos condenações e
absolvemos quem consideramos inocente.
Questiono o nível de
profundidade no conhecimento das causas que nos motivaram a acompanhar e, indo
além, manifestar nossas indignações quanto aos atores que estrelaram os
folhetins político/policiais de 2012. Trago este questionamento por entender
que somos, se não em todo, na maior parte do tempo guiados pelas edições das
empresas de comunicação, que sabidamente seguem explícitas tendências
editoriais.
Acima das versões
editadas pela mídia, temos os partidos e personalidades políticas que articulam
e desarticulam a fim de apresentar verdades que lhes favoreçam. Num eterno jogo
de esconde-esconde, os partidos se valem de tentativas descaradas de
manipulação da opinião pública. Nós, que formamos a audiência para os
espetáculos de pirotecnia política, assistimos ao jogo de ataque e defesa
protagonizado por PT e PSDB, onde um ataca com o “mensalão” e o outro contra-ataca
com a “CPMI do Cachoeira”, e formamos “nossa opinião” através de fragmentos que
se acumulam em nosso subconsciente, nos fazendo coadunar ou repelir algumas
“verdades” que nos são apresentadas.
Intento me manter
sóbrio frente ao mar de verdades e mentiras que buscam conquistar minha
opinião. Procuro ter acesso a vários vieses do mesmo fato, tentando separar a
versão que mais me convença de sua veracidade. Infelizmente muitas vezes não
tenho acesso a outros pontos de vista, não tenho acesso a outras possíveis
“verdades”, pois os envolvidos são hábeis em deletar os registros que por
ventura lhes desconstruam os interesses.
Provavelmente nós,
meros mortais, jamais teremos acesso à verdade definitiva, à raiz dos fatos,
aos nomes e sobrenomes dos culpados pelas mazelas que nos roubam mais do que
recursos, roubam nossa dignidade, nosso orgulho de ser brasileiros. O
importante é não aceitarmos a manipulação de quem quer que seja, não
continuarmos sendo massa de manobra nas mãos de oposição e situação, nesta
guerra que em nada prima pelo bem do povo.
Para finalizar, envio
um recado aos relatores, revisores, e demais atores da mídia
político-escandalosa que direciona as expectativas de meus concidadãos: os
tempos estão mudando, a tecnologia está alterando os caminhos do poder, o
domínio da informação e seus meios de edição estão sendo confrontados por novos
geradores de conteúdo. A partir deste ponto, tudo pode ser diferente, e tudo o
será, pois sempre existirão os questionadores, os insatisfeitos e os destemidos
que constroem suas lentes próprias, e não se satisfazem em apenas dizer “amém”!
Marcos Marinho
Professor e
consultor político
twitter: @mmarinhomkt
marcos@mmarinhomkt.com.br