Thomas Hobbes, filósofo
inglês da Idade Média, conhecido como “contratualista” por defender que a
manutenção da sociedade, do Estado, depende da celebração de contratos que
organizem e parametrizem as ações dos homens em suas relações, disse que: “o
homem é o lobo do homem.” Neste texto serei obrigado a fazer uma adaptação
deste pensamento, pois acredito que em nosso contexto, no século XXI, o Homem
assumiu o papel de “Lobo dos Lobos”!
Hobbes ressaltava a equidade
dos homens em relação aos seus desejos, falava não só das necessidades básicas,
mas da visão que cada um fazia de si mesmo, se achando tão especial e único, que
considerava ter maior merecimento do que o outro. Ao nos vermos como iguais,
ignorando as diferenças fenotípicas que podem agregar maior vantagem ou
desvantagem física a este ou aquele ser, pois estas podem ser subjugadas pela
inteligência, estratégia e cooperação entre os mais fracos, nos deparamos com
uma situação perturbadora: “Como administrar uma contenda onde todos possuem
desejos comuns e legítimos, mas nenhum quer ceder à primazia do outro e não se
predispõe a contribuir para o saneamento dos desejos de alguém antes do seu
próprio?” Realmente o homem é o único capaz de devorar os sonhos do próprio
homem!
Compartilho então da visão
de Hobbes, e não acredito que os homens, se não por força de “contratos”, que
podemos entender como leis, regras e hierarquias, conseguiria se manter em
sociedade de forma democrática, produtiva e harmônica. Sendo assim coloco por
terra qualquer levante anarquista que por ventura ainda rasteje nos porões de
décadas passadas. Também digo do socialismo, que trago ao texto mais como uma
filosofia marxista do que propriamente um regime político, que necessita de
leis e normas, além de uma hierarquia clara que organize a imensa base de
“iguais”, formada abaixo das casas gestoras. Sobre o capitalismo acredito ser
desnecessário tecer comentários, pois já se evidenciam pelo texto acima.
Sendo assim entendo que não
poderíamos viver e conviver em um Estado sem leis, sem gestão. Temos então,
necessariamente, algumas “coleiras” que impõem limites e controles aos lobos
que andam nas ruas de nossas cidades. Agora vem a parte onde parafraseio o
autor citado neste texto, e apresento minha ideia sobre ser o homem, “o lobo
dos lobos”:
Vivemos sob uma infinidade
de leis, apesar de transcritas em um código defasado e pouco aplicado, temos
regras e instituições normativas e coercitivas com a função determinada de nos
manter dentro dos parâmetros legais, nos permitindo construir, conquistar,
conviver, questionar, julgar e apenar aqueles que se colocarem de encontro ao
estabelecido. Porém isto não tem sido suficiente para evitar que os “lobos”
intimidem os homens, e passem a disputar entre si quem é o lobo capaz de
horrorizar e subjugar os outros lobos.
Vemos cotidianamente
estampadas em todas as mídias, as manchetes sobre lobos destruindo vidas de
homens inocentes, vemos lobos tão raivosos que estraçalham crianças para
satisfazer sua loucura motivada por sentimentos e necessidades que
provavelmente nem “Freud explicaria”.
Nossas instituições não
estão sendo suficientes para controlar os lobos, nossas leis já não os coíbem,
talvez por crerem que não lhes causarão mal. A violência é, sim, uma
característica humana, entranhada em nosso DNA animal, porém éramos animais que
se valiam dela apenas em situações extremas, e hoje vemos essa violência
manifestada de forma banal, por diversão, perversão e pura maldade.
Alguns homens-lobo
exteriorizam sua violência de forma velada, desviando e surrupiando verbas
públicas que deveriam beneficiar milhares, mas acabam em cuecas, meias e contas
em paraísos fiscais. Outros se valem das armas para humilhar, machucar e
dizimar seus semelhantes, externando uma agressividade que deixaria os lobos
horrorizados. Vemos então que não basta apenas ao “homem lobo do homem” a
dominação para sanar suas carências, ele quer ser o mais forte lobo entre os
lobos, impondo suas vontades e suas loucuras acima de qualquer traço de
humanidade que o constranja.
Já temi o animal dentro de
cada homem, hoje temo o homem dentro de cada animal! Afirmo que ainda não perdi
completamente a fé na raça humana, bem como nas leis e nas instituições
responsáveis por sua aplicação. Mas digo que é sine qua non à sobrevivência das cidades que nossa legislação seja
revista, nossas instituições sejam reformadas e nossos cidadãos se enxerguem
como parte da solução para os problemas que os assolam, e não apenas como
vítimas deles.
Estamos todos expostos aos
lobos maus, principalmente quando aqueles que juraram “proteger e servir” estão
de braços cruzados, mas não podemos aceitar apenas o papel de “caça”, pois
somos, também, uma parte lobo e, por isso, caçadores. Provavelmente por sermos
nós, pessoas de bem, cientes de nossa maior proporção humana, que mantém
enjaulada nosso lobo interior, tenhamos mais dificuldade em confrontar o mal
com o mal, neste caso acredito que devamos atuar como alcateia, nos protegendo
uns aos outros, buscando meios de sobrevivermos em conjunto e nos defendendo
daqueles que tentam diuturnamente nos matar, roubar e destruir.
Ainda que o homem continue
sendo lobo do homem, não podemos permitir que este lobo cresça e se sobreponha
aos outros homens, voltando a ser um animal irracional. Se o lobo está dentro
de cada um, como agir para evitar que sejamos dominados por ele? Para evitar
que os que o são não se constituam em maioria?
Marcos Marinho
Professor e consultor de marketing
Twitter:
@mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br