Chegamos
ao fim de um ano bastante movimentado no cenário político local e nacional. As
Eleições 2014 transcorreram em um clima de muita beligerância, o que ecoa ainda
hoje com resultados que, obviamente, não agradaram a todos - fato inerente a
qualquer processo eletivo.
Imagem: http://www.culturamix.com/ |
Fazendo
um balanço sobre as campanhas eleitorais deste ano, afirmo que não houve
grandes evoluções nem do lado de que buscava o voto, nem de quem buscava em
quem votar. Ainda não foi em 2014 que vimos alguma campanha capaz de engajar e
mobilizar a sociedade em prol de um representante, tampouco vimos algum grupo
civil organizado mobilizando-se a fim de fazer prevalecer suas demandas e aspirações
em apoio ou oposição às propostas apresentadas pelos candidatos.
As
redes sociais serviram, em sua maior parte, como palco para embates de
militâncias e equipes contratadas para atacar e/ou defender aqueles candidatos
que tinham verba suficiente para estes serviços.
Este
fato nos obriga a pensar o que falta para haver uma aproximação mais produtiva
entre políticos e cidadãos. Não limitando essa relação aos momentos de
cooptação de votos, mas entendendo a importância do envolvimento entre estes
personagens porque uns impactam diretamente nas vidas dos outros.
Analiso
que da parte dos políticos faltou conhecimento, preparo e interesse em
realmente se comunicar com os cidadãos. Conhecimento porque não buscam se
atualizar sobre as ferramentas comunicacionais nem fazem uso regular delas
durante seus mandatos, o que reforça minha hipótese de falta de preparo. Mas o
principal problema é a falta de interesse em se comunicar. E entendamos
comunicação como um processo bilateral onde deve haver momentos de emissão e
recepção de mensagens, ou seja, é preciso falar, mas também ouvir o cidadão.
Sem
o hábito de receber, até pela falta de canais, demandas de seus eleitores e com
o costume do monologar em discursos na época da eleição, os representantes do
povo não mais se percebem como povo após serem diplomados, abandonando o
dialogo com seus representados. Como a internet dá espaço para a fala destes
representados, rompendo com o silêncio e excluindo muitos filtros antes
impostos pelos canais tradicionais de comunicação, os políticos se intimidam e
se ausentam.
Por
outro lado também temos a ausência dos cidadãos nas discussões sobre assuntos
que envolvem o bem comum, a polis, a política. Muito ativos nas redes sociais
quando os temas curtidos e compartilhados versam sobre animaizinhos,
bebezinhos, pegadinhas ou qualquer banalidade da moda, não há uma mobilização
expressiva em prol dos assuntos que efetivamente contribuem para uma melhor
qualidade de vida para todos.
Lanço
também algumas possibilidades para esse afastamento: desconhecimento,
desinteresse e desinformação. O desconhecimento sobre o tema fatalmente
dificulta a participação do cidadão. Esse fato é notório quando avaliamos o
tipo de educação que é ofertada às crianças e adolescentes sobre política. Nenhuma.
Desta forma vemos pessoas que podem encontrar seu lugar de fala sobre temas
sociais, mas que possivelmente não saibam o que dizer, pois não foram
politizadas para isso.
O
desinteresse se associa em certo grau ao desconhecimento, pois a ignorância
também rouba o entendimento sobre a importância do tema e faz com que a pessoa
o relegue a outras ou a um nível desimportante. Mas também devemos considerar o
desfavor prestado por grande parte dos políticos que insistem em estampar
diariamente as manchetes de jornais em divulgações de escândalos. Associados à
sujeira, corrupção e roubalheira, compondo assim uma representação social extremamente
negativa, é muito fácil perceber porque as pessoas não querem se envolver com
os assuntos políticos: não querem se sujar.
Finalizo
comentando sobre a desinformação, fruto, talvez, da hiperinformação recebida
cotidianamente. Sem confirmação de fontes, com descrédito em muitas, e com
várias versões desencontradas que primam pelos interesses dos envolvidos, o
cidadão se sente perdido entre os acontecimentos que o soterram sem dar-lhe
tempo para o devido processamento e interpretação dos dados percebidos.
É
certo que temos agora um lugar de fala amplo, potente e disponível para ambos
os lados, mandatários e cidadãos. Termos como e-participação já começam a
ganhar força entre os estudiosos da comunicação política e nos aponta as
possibilidades de engajamento e mobilização da sociedade em prol de suas
demandas e direitos políticos, indo ao encontro ou de encontro àqueles que se oferecem
para representá-los.
Marcos Marinho
Professor e Consultor Político
@mmarinhomkt