Chegamos à reta final
das eleições 2014, aparentemente no velho ritmo da inércia que se abateu sobre
a política goiana há tempos. Povo de um lado, candidatos do outro, propaganda
fraca, eventos mirrados e nada de “novo”.
Mais uma vez o povo
ficou à espera do candidato capaz de captar-lhe os anseios, capaz de se
comunicar e apresentar alguma forma de mudar essa realidade desagradável que
está posta. Mas aí reside um problema: será que o povo tem alguma ideia de como
se parece esse candidato? Sem saber como ele é, como o identificar quando o
vir?
Trago esse
questionamento em confronto direto àqueles que dizem que anularão o voto por
não ter “alguém que preste”. Afronto também os que afirmam serem os políticos
todos iguais. São iguais a quê, em que, a quem?
A atividade política
vem sendo pervertida ao longo do tempo, afastando-se totalmente do que deveria
ser. O professor Clóvis de Barros Filho nos apresenta um conceito de política
muito interessante, que diz: “a política é o debate sobre compatibilizar
interesses contraditórios no sentido da melhor convivência possível”.
É fato que viver em
sociedade requer habilidades relacionais, pois são muitos desejos diferentes
coexistindo no mesmo ambiente e dependendo dos mesmos recursos. Àqueles que se
propõem mediar relações sociais, papel principal dos mandatários políticos, é
fundamental que essa habilidade prepondere sobre todas as outras. Saber negociar
em prol do atendimento dos interesses dos que lhe votaram, não apenas de seus
próprios, deve ser o principal norteador de sua atividade enquanto
representante escolhido pelo povo.
Mas será que esse
critério sobressairá entre os que serão usados pelos eleitores para definir o
voto no próximo dia 05 de Outubro? Caso não seja o balizador, quando a campanha
passar lá estará novamente o eleitor sem quem trabalhe para compatibilizar seu
interesse com uma vida melhor.
Suponho não ser aquele
que distribui mais gasolina, ou meia dúzia de dinheiro, ou cavaletes nas ruas,
santinhos pelas calçadas, sorrisos em fotos e vídeos, que ostente essa
capacidade de lutar pelos interesses de quem lhe confiou o voto. Estes que se
baseiam na encenação pura, na comercialização de apoios e sufrágios, certamente
não titubearão em votar uma matéria, uma lei, um projeto que possa prejudicar o
povo, desde que ganhem seu quinhão.
O verdadeiro político
exerce sua atividade todos os dias de sua vida, com ou sem mandato. Ele está
sempre disposto a lutar pelos interesses dos que lhe necessitam de apoio e
ação. O resto, que pulula no horário eleitoral, são apenas “atores de campanha”
em busca de um troféu, um emprego com boa remuneração e poder para dar voz aos
seus desejos. Aparecem, somem e reaparecem durante as eleições e, ganhando ou
perdendo, passam quase quatro anos sem olhar o eleitor nos olhos ou responder
suas indagações.
Não se deve confundir a
política e os políticos com a guerra de interesses particulares e “atores de
campanha”. Também não é inteligente a afirmação de que “a política é sempre
assim”, pois estaria confirmando que somos, todos que não agimos ou concordamos
com isso, massa indefesa de manobra.
Admito que sejamos, na
maioria, lenientes e preguiçosos quando o assunto é política. O que é um
equívoco imperdoável, visto a violência e carestia do mundo em que vivemos. Mas
não somos agentes passivos neste processo! Podemos mudar tudo, de uma vez, caso
assim desejemos e para isso nos empenhemos.
Espero que antes de
tomar sua decisão no dia 5 de Outubro haja reflexão e ponderação quanto ao que
está realmente em jogo no momento do voto. Não simplesmente a propaganda, os
sorrisos, as promessas devem ser seu guia para escolher o candidato certo.
Pesquise, conheça, questione quem for pedir seu voto, obrigue-os a fazer por
merecer te representar nos próximos quatro anos. Lembre-se: sem um bom
representante seus interesses sempre serão derrotados, na luta diária pela
felicidade.
Professor e analista
político
Apresentador do
programa CONTRADITÓRIO