A
expectativa é um dos sentimentos humanos mais difíceis de lidar, pois depois de
alcançado um referencial, nada abaixo dele será considerado satisfatório e,
desta forma, sempre estaremos em busca de sensações que superem as experiências
anteriores.
O
dia 07 de setembro de 2013 passou carregado de expectativas, em sua maioria,
frustradas. Precedido por momentos históricos, onde todas as vozes foram manifestadas
nos milhares de cartazes pelas ruas do país em junho, o dia da Independência
não ouviu os gritos que esperava.
Já
surgiram aqueles que decretaram o retorno do “gigante” ao seu berço esplêndido,
e assim apregoam o descrédito no povo brasileiro que não lhes correspondeu às
expectativas por não tomarem novamente as ruas com toda fúria e entusiasmo, não
superando as imagens veiculadas há três meses pela mídia internacional.
Abstraindo
as expectativas românticas e pouco lógicas, avalio que o “gigante” não voltou a
dormir, mas está completamente perdido. Aparentemente não ficou claro para
aqueles que exigem uma postura mais ativa e engajada do povo brasileiro, que
este não assistiu às aulas politizadas das academias ou às reuniões ideológicas
dos partidos e movimentos sociais. Sua motivação ainda é difusa, mas suas
carências são claras.
As
manifestações de junho contaram com anos de acúmulo de frustrações e angústias,
associadas a um catalizador econômico que atuou como imã atraindo as pessoas
para as ruas. Movimentos desordenados, desorganizados e acéfalos, mas com pelo
menos um ponto em comum que os mantiveram unidos nas ruas: a necessidade de
extravasar e aliviar a pressão. Todos foram contemplados por esta demanda.
De
junho a setembro, os brasileiros foram bombardeados com mais uma série de
decepções e escândalos, com corporativismos políticos que beneficiaram bandidos,
e com o costumeiro paralisar das ações em benefício do povo. Porém uma coisa
não aconteceu neste ínterim: nem políticos, nem líderes, nem entidades surgiram
para assumir o papel de novos catalizadores dos motivos populares.
A
acefalia de junho pôde ser compensada por fatores que suplantaram a importância
de um guia comum, os próprios sentimentos e carências fizeram este papel. No
entanto, estes motivadores jamais seriam suficientes para repetir as cenas daquela
jornada. Como falamos no início deste texto, as expectativas só se superam por
sentimentos mais fortes e impactantes que os anteriores.
Sem
direcionamento, liderança e educação disseminados entre todas as fileiras
dispostas a mudar este país, ainda que ele não adormeça, ficará sem rumo,
perdido em meio a um campo que nunca lhe foi apresentado da maneira devida. O
povo mantem os mesmos anseios e carências de antes, mas não sabe se o caminho
das ruas é suficiente para saná-los.
Marcos Marinho
Professor e consultor político.