Difícil explicar tudo o que
aconteceu em Goiânia no dia 20 de junho de 2013, confesso que ainda estou
processando. Grosso modo, posso dizer que foi a maior manifestação política já
presenciada por muitos daqueles que dividiam espaço comigo no asfalto do centro
da cidade. Empiricamente deduzo que éramos mais de cinquenta mil.
Desorganizados e sem saber
direito como protestar, pude ver toda miscelânea cultural de nossa sociedade
entremeada por faixas, cartazes e gritos de ordem, marchando pelas principais
ruas e avenidas que circundam as casas do poder em nossa cidade. Senti orgulho.
Agora surgem controladores
entre a multidão, que assim como tias velhas e chatas criticam a incoerência
inocente daqueles que não foram doutrinados em suas cartilhas de engajamento
político. Reclamam que ali estavam pessoas que não conheciam as regras básicas
dos protestos sociais e assim ficavam perambulando sem foco, ou pelo menos sem
o foco que eles queriam dar à manifestação.
Como disse Castro Alves: “A
praça é do povo! Como o céu é do condor”. E isso é o mais importante neste
momento, ver que o povo ocupou seu espaço. Independente de bem treinados ou
não, se doutores em protestos ou meros agitadores de cartazes cômicos, tenho
certeza que este movimento cumpriu sua missão. Despertadas foram muitas mentes
jovens que não sabiam existir vida fora das telas de computador, mentes idosas
que viviam no saudosismo de suas passeatas contra a ditadura, mentes infantis
que se quer sabiam o que significava tudo aquilo, mas entendiam a importância
de participar.
Não é com uma passeata que
mudaremos o país. Muito menos ficando em casa presos em um mundo de reclamações
e banalidades virtuais. Precisamos educar a população. É dever dos mais
politizados disseminar este tipo de conhecimento àqueles que dele carecem. Os
que criticam a falta de seriedade e objetividade dos manifestantes de primeira
viagem deveriam desenvolver projetos para contribuir com seu amadurecimento
político, com sua evolução para o nível de cidadãos.
Os milhares que foram às
ruas de Goiânia, mesmo sem saber como proceder são mais corajosos do que os
pseudo-politizados que se escondem por detrás de máscaras, bandeiras e
discursos raivosos. Estes com toda sua experiência de militantes aguerridos e
coléricos se quer conseguem engajar meia dúzia de gatos pingados em suas
fileiras. Não cientes de suas incongruências, preferem atacar aqueles que
chamam de “sociedade fascista e burguesa da classe média”. São tão néscios que
desconhecem a atual pirâmide social deste país, e sua estreita relação de dependência
com esta classe que tentam agredir.
Foi dado um grande e
importante passo em direção à redemocratização do Brasil. Essa força emergente
dos desgostos populares, que foi alimentada pelo descaso e corrupção de alguns mandatários,
definitivamente coloca toda classe política contra a parede e grita aos seus
ouvidos: chega!
Governantes, legisladores,
juristas, emissoras de TV, enfim, todas as esferas do poder não poderão mais nos
tratar como zumbis alimentados por engôdos televisivos e bolsas “sei-lá-o-quê”.
É premente a este movimento
prosseguir em direção às urnas de 2014. Mas para isso, precisamos chamar as
pessoas que se dispuseram a marchar por motivos ainda difusos, e lhes colocar
lentes capazes de maximizar suas visões políticas. Precisam entender que como
diria Aristóteles, são “animais políticos”. E isso é o que lhes permite conviver
em sociedade. Precisam conhecer nosso sistema político, a incumbência de cada
um dos poderes que nos regem, a finalidade dos partidos e representantes
políticos.
Falando em representantes, é
bom que os mesmos saibam que estão colhendo o que plantaram. Toda descrença,
desrespeito, desconfiança e repúdio foi cultivado pelos próprios, a cada pizzada
nas CPIS do congresso, a cada escândalo motivado por corrupção e desvio de
verbas, a cada brasileiro vitimado pela violência ou falta de assistência
médica. Precisamos de um resgate de valores, credibilidade e legitimidade
representativa urgente.
Ao povo a educação, aos
governantes e legisladores a exortação, ao país nosso engajamento e certeza de
que não mais nos prostraremos de joelhos frente àquilo que o prejudica e nos
prejudica.
Viva o povo goiano, viva o
povo brasileiro, viva os dias melhores que merecemos viver.
Marcos Marinho
Professor e Consultor político
Twitter: @mmarinhomkt